O clima de Sete Lagoas é monitorado desde o ano de 1926 pelas estações meteorológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) instaladas na Embrapa Milho e Sorgo.
As análises dos dados mostram claramente as tendências das mudanças climáticas ao longo do tempo, principalmente em relação ao aumento da temperatura e da ocorrência de chuvas de altas intensidades e à redução da umidade relativa do ar. A precipitação média anual (chuvas por ano) é de 1.350 mm, mas existem variações anuais, com anos muito secos e parecidos com as condições das regiões semiáridas ou muito chuvosos e comparáveis com as condições amazônicas. As chuvas de altas intensidades ocorriam em baixas frequências até meados da década de 1970 e atualmente tendem a ocorrer quase todos os anos.
Essas variações são influenciadas por alterações na formação das nuvens de chuva, que dependem da dinâmica do ciclo hidrológico, ou seja, as mudanças de fase da água entre seus estados sólido, líquido e gasoso. A temperatura da água dos oceanos tem grande impacto na evaporação da água, e os efeitos do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) são os mais conhecidos. Em anos de ocorrência do fenômeno El Niño, quando as águas superficiais do oceano Pacífico Tropical estão acima da média, ocorrem maiores tendências de chuvas na região Sul e estiagem no Nordeste.
Essas condições se invertem nos anos de La Niña, que está ativa desde agosto de 2020, com estiagem severa no Rio Grande do Sul, e nos países vizinhos Uruguai, Paraguai e Argentina, e com chuvas acima da média nos outros estados do Brasil. Os modelos de previsão indicam o fim da atuação do La Niña no próximo mês de março e condição neutra até meados do ano de 2023, quando o El Niño volta a atuar.
Em 2021, o fenômeno La Niña provocou uma das piores estiagens já registradas no Brasil, enquanto no início de 2022 aconteceram grandes enchentes provocadas pelas chuvas, principalmente na Bahia e em Minas Gerais. Em Sete Lagoas, tivemos 26 dias de chuvas em dezembro e 25 dias em janeiro, ou seja, choveu quase todos os dias desses meses. No período chuvoso 2022/2023, com exceção do Rio Grande do Sul, as chuvas foram acima da média e com altíssimas frequências, o que causou vários impactos muito positivos:
– Safra recorde na produção agrícola do Brasil, que, conforme as projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve ser superior a 310 milhões de toneladas.
– Previsão de boa produtividade nas regiões produtoras de segunda safra.
– Melhoria da produtividade em pastagens, cana-de açúcar, café, laranja, mandioca e outras culturas.
– Pleno abastecimento dos reservatórios para a produção de energia elétrica.
– Redução na incidência de queimadas em função do maior volume de água nos solos.
– Aumento da reposição hídrica nos lençóis freáticos.
– Redução da incidência de infestações de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue, chikungunya e zika, em função da constante reposição da água retida em poças.
Contudo, houve também impactos negativos:
– Maiores riscos de desabamentos e alagamentos.
– Piora na qualidade das estradas em função da saturação dos solos.
– Maior incidência de doenças de origem fúngica na agricultura.
– Maiores dificuldades na colheita dos grãos e riscos de compactação dos solos.
A partir do mês de março, as chuvas tendem a diminuir nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, mas os modelos de previsão climática indicam que deverão ficar acima da média em todo o País, exceto no Rio Grande do Sul, que enfrenta forte período de estiagem.
Por Daniel Guimarães
Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo