Saúde mental das crianças: como cuidar

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Nas primeiras fases da vida, tudo é muito intenso, dinâmico e muda rápido, sendo que os blocos iniciais do desenvolvimento psicológico são importantes preditores e dão sustentação para toda a vida do indivíduo. Por isso, entender melhor sobre como cuidar da saúde mental das crianças é fundamental!

Além disso, não só a mãe e o pai têm esse papel de cuidado. Toda a família e comunidade devem trabalhar juntas para construir um ambiente adequado para o desenvolvimento infantil. Inclusive para identificar possíveis problemas vivenciados em casa.

A saúde mental durante a infância é a base para um bom desenvolvimento, podendo até mesmo prevenir o surgimento de transtornos mentais como depressão, ansiedade e transtornos de personalidade na idade adulta.

Durante a infância, ocorre grande parte do desenvolvimento e maturação do cérebro, que é um órgão plástico, ou seja, que se modifica de acordo com as experiências ambientais. E, se esse desenvolvimento não ocorrer de maneira adequada, apresentará impacto por muito tempo.

Sendo assim, crianças expostas a muito estresse constantemente tendem a ter alterações estruturais e funcionais no cérebro que acabam influenciando a saúde mental na idade adulta.

Especialistas chamam de “estresse tóxico” uma série de traumas, tanto profundos quanto leves, mas que quando se mostram de maneira contínua e consistente na vida da criança acabam por prejudicar o desenvolvimento delas.

Não é à toa que grande parte dos psicólogos passaram muito tempo de suas vidas estudando a infância e as etapas do desenvolvimento. Graças a eles, a psicologia atual dispõe do conhecimento de onde surgem grande parte dos conflitos internos e sintomas da vida adulta, que têm suas raízes na infância.

Da mesma maneira, psicólogos (as) também sabem o que é necessário fazer para promover um desenvolvimento saudável, diminuindo significativamente as chances de uma criança desenvolver distúrbios de ordem psicológica na idade adulta.

Além disso, uma infância é importante para o desenvolvimento de traços de personalidade saudáveis, como a consciência, abertura para a experiência e amabilidade.

Impactos do estresse na saúde mental das crianças

Os estresses que uma criança passa podem ser mais ou menos suportáveis.

Os leves e rápidos, como o sentimento de raiva e nervosismo ao ter um desejo negado, não são prejudiciais e podem até ajudar no desenvolvimento da criança, tendo em vista que é necessário aprender a ouvir um “não” para desenvolver uma boa tolerância à frustração.

Há também estresses moderados, geralmente traumáticos, mas que podem ser enfrentados sem causar muitos prejuízos com a ajuda da família, dos amigos e toda uma rede de apoio em torno da criança. Dentre estes, está a morte de um parente ou de um animal de estimação, ou a impossibilidade de realizar um sonho, por exemplo.

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Por fim, uma terceira categoria de estresse são os negativos, que podem variar entre estresses intensos e leves, porém contínuos. Alguns exemplos são situações de abuso físico, sexual ou psicológico, negligência, falta de afeto, cobrança exagerada, entre outros.

O que é importante para cuidar da saúde mental de crianças é evitar o estresse tóxico, que muitas vezes é causado por estresses leves, mas contínuos. Portanto, pais e mães devem construir um ambiente de acolhimento e alívio.

Pais ou mães que sofrem com transtornos mentais, alcoolismo e abuso de substâncias devem buscar tratamento o quanto antes, pois essas condições afetam o comportamento do adulto que, por sua vez, afeta o desenvolvimento da criança.

Organizar uma rotina é de extrema importância, especialmente nas idades mais novas, pois a criança ainda não tem a capacidade de se organizar sozinha e depende inteiramente de seu (s) responsável (is).

A implementação de uma rotina estruturada auxilia a criança a ter uma maior percepção de previsibilidade, o que gera sentimentos de segurança, pois ela sabe o que irá acontecer posteriormente, diminuindo estados de ansiedade desnecessários. Concomitantemente, aumenta-se o senso de responsabilidade e autonomia. Assim, a criança passa a se perceber sendo capaz de realizar as coisas.

Dessa forma, caso haja falta de organização familiar, isso pode afetar os cuidados básicos (o que configura negligência).

Esse tipo de tratamento fica marcado na psique da criança e ela passa a não ter confiança no mundo, acreditando que suas necessidades não serão satisfeitas a não ser que ela force, o que dá origem a comportamentos indesejados como agressividade, mentiras, manipulação, entre outros.

Também é importante que os responsáveis tenham em mente que a criança aprende a partir de modelos e, se eles não forem bons, a criança irá sofrer com isso também.

Por isso, pessoas que brigam demais e transformam o ambiente em hostil estão pavimentando o caminho para que a criança também tenha atitudes assim. Famílias desestruturadas nas quais as emoções são instáveis e intensas criam crianças com essas mesmas características.

Isso é especialmente importante quando os pais e mães querem se separar, mas têm receios por conta de filhos (as). Felizmente, a psicologia nos mostra que a separação é muito melhor para a saúde mental dos pequenos do que casais juntos e profundamente infelizes.

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Por fim, os responsáveis não podem deixar com que a criança viva em um eterno conto de fadas. Algum nível de frustração é importante para que ela aprenda a se regular emocionalmente, tendo em vista que a vida é cheia de altos e baixos, comuns na infância e, mais ainda, na vida adulta.

Nesse sentido, é fundamental dizer não, impor limites e fazer combinados, conversar com a criança, não invalidar os sentimentos vistos como negativos: tristeza, raiva, medo, etc. e manter a atenção a sinais de transtornos ou problemas que indiquem algo mais grave.

Quais problemas psicológicos afetam mais frequentemente as crianças?

Transtorno do espectro autista (TEA)

O autismo é uma condição neurológica que prejudica a comunicação e a interação social, apresentando também dificuldades sensoriais. A criança pode apresentar déficits que comprometem a linguagem verbal (a fala) e compreensão de linguagem figurada (exemplo: ditados populares), ter dificuldade em olhar nos olhos dos outros e ter dificuldades com o toque, mesmo o toque materno.

Transtornos de ansiedade e fobias específicas

A criança pode apresentar altos níveis de ansiedade e angústia em situações não muito ameaçadoras, como ao chover, ficar no escuro, medo de insetos inofensivos, entre outras. Pode apresentar também um medo exagerado de ficar sozinho ou sem pessoas responsáveis.

Depressão

A depressão na infância pode se manifestar de maneira diferente, com sintomas como a falta da vontade de brincar ou de interagir com os amigos, alterações no sono e na alimentação, raiva e reatividade aumentada, agitação e emotividade.

Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é definido como a dificuldade de manter a atenção concentrada. Frequentemente, a criança que sofre com déficit de atenção também tende a apresentar agitação, impulsividade e irritabilidade.

Vale lembrar que o diagnóstico de TDAH em meninas pode ser dificultado, pois o quadro tende a apresentar-se com nuances diferenciadas, caracterizando-se, mais nitidamente,  por falta de concentração, o que não descarta demais sintomas.

Deficiência intelectual

Também chamada de “atraso cognitivo”, a deficiência intelectual é uma condição na qual a cognição da criança não se desenvolve da maneira esperada, apresentando atrasos em relação às outras crianças da mesma idade.

Com isso, a criança pode ter atrasos na aprendizagem, dificuldades com a aquisição da linguagem, alterações na capacidade de compreensão e resolução de problemas, dependência do pai ou mãe para atividades do dia a dia, entre outros.

Transtorno opositivo-desafiador (TOD)

O transtorno opositivo-desafiador é caracterizado por um padrão de comportamento desafiante e desobediente, em especial quando é direcionado a figuras de autoridade, como professores(as), cuidadores(as) e outros adultos.

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Crianças com TOD frequentemente gritam e discutem com adultos, apresentam alta irritabilidade e teimosia, desafiam e desrespeitam regras e instruções, entre outros.

O auxílio psicológico é bem-vindo em diversas etapas da vida, mas é preciso tomar cuidado com o excesso de patologização. Isso significa que nem todo comportamento preocupante indica um transtorno. Por exemplo, nem toda tristeza indica depressão, nem toda aflição representa uma ansiedade não tratada.

Crianças podem se sentir tristes e isso não quer dizer que tem algo de errado com elas — desde que essa tristeza seja contextualizada. Em outras palavras, a criança apresentar tristeza por conta de um acontecimento desagradável é adequado. No entanto, quando essa tristeza surge sem que haja motivos aparentes e se torna constante, aí as pessoas responsáveis precisam procurar ajuda.

Os sinais dos transtornos mentais em crianças podem ser diferentes dos sinais em adultos, tendo em vista que elas ainda não têm o mesmo conhecimento de mundo e podem limitar a expressão de seus sentimentos e pensamentos.

Alguns sinais que os pais e cuidadores devem ficar atentos:

  • Falta de vontade de brincar;
  • Falta do desejo de interagir com os amigos e dificuldades nos relacionamentos interpessoais (com amigos, familiares ou demais pessoas);
  • Mudanças bruscas e repentinas de humor e/ou comportamento;
  • Problemas para dormir;
  • Agressividade e irritabilidade;
  • Fome alterada (excesso ou falta);
  • Pesadelos recorrentes;
  • Angústia desproporcional às situações;
  • Baixo rendimento escolar;
  • Escapes de urina e fezes mesmo após o desfralde, especialmente durante a noite.

Apesar das crianças terem um ou dois responsáveis legais, garantir seus direitos é papel de toda a comunidade. Isso quer dizer que toda pessoa que tem contato ou convive com uma criança pode identificar alguma condição inadequada, bem como denunciar casos de maus-tratos, negligência, violência psicológica, física ou sexual, entre outras situações.

Especialmente serviços de saúde e educação, que recebem e passam mais tempo com as crianças. Isso é de extrema importância já que grande parte desses traumas é causado por pessoas conhecidas da família: parentes e amigos próximos. Sendo que a criança sofre em silêncio e vai alimentando traumas para toda a vida.

 

Por fim, a saúde mental na infância é fundamental para que as crianças cresçam saudáveis, física, mental, social e afetivamente. Nesse sentido, toda a família e sociedade devem trabalhar juntas, construindo ambientes harmônicos e adequados.

Minuto Saudável

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