A instituição prevalece sobre a pessoa

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Rezam as boas práticas de convivência na sociedade e, mais recentemente de complience, que os governantes passam, mas as entidades ficam. Por isto, sempre é de bom tom que sua diretoria pense e aja com olhos para o futuro sem descuidar das demandas atuais dos seus associados. Aqueles que assim agem, têm grandes chances de permanecerem ocupando seu devido espaço e crescerem em importância no cenário institucional, com respeitabilidade, por longo tempo. Já aquelas que preferem de uma forma ou de outra, se associarem ao governo que está vigente, correm sério risco de, quando houver a troca do governante, serem alijadas para longe do círculo de decisão ou, recebidas com pouca atenção se quem sentou na cadeira do poder foi rechaçado pela entidade.

O bem da Instituição deve sempre prevalecer sobre a opinião e o desejo pessoal de quem a está dirigindo. Uma coisa são os desejos pessoais de Elizabeth de Windsor, outra é o que deve a Rainha Elizabeth II fazer sobre determinada situação. A força da segunda sempre vai prevalecer sobre a da primeira. Por isto que muitos relatam ser um grande fardo assumir cargos públicos ou se tornar uma pessoa pública.

Está circulando em grupos de whatsapp uma convocação para uma grande manifestação em Brasília, no mês de maio, chamado Movimento Brasil Verde e Amarelo. Os líderes deste movimento defendem que é preciso se manifestar contra os desmandos do STF, a grande mídia e os outros que conspiram contra o “nosso país”. A ideia é juntar milhares de produtores rurais no gramado em frente aos Três poderes. A movimentação está sendo difundida e apoiada por importantes entidades do agronegócio, principalmente de produtores rurais.

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É neste ponto que os dirigentes estão esquecendo-se da regra básica de coexistência na sociedade e de complience, colocando suas preferências políticas e suas indignações a frente dos interesses da entidade que tem pautas mais abrangentes, mais necessárias para o setor como um todo. Fazendo um protesto com esta pauta, suas demandas podem ser bem vistas pelo atual governo, mas arriscam-se a não serem bem recebidas se houver troca de governante.

Pautas como seguro rural abrangente e com alocação de recursos para todos, definições de preços mínimos de produtos, melhoria na infraestrutura logística e no fortalecimento das relações comerciais com um número cada vez maior de países. Equalização de cargas tributárias e muitos outros temas são bem mais importantes que digladiarem-se contra as decisões do Supremo Tribunal Federal.

Mas para além desta questão existe outra que é tão séria quanto. Como, em sã consciência, entidades convocam pessoas para viajarem de todos os cantos do País, até de jegue se for o caso, como diz uma das mensagens, buscando reunir 10 mil, 50 mil manifestantes, para promover este protesto, sendo que ela vai provocar grande aglomeração, algo que é terminantemente comprovado por todos os órgãos de saúde, como fato provocador de transmissão do vírus da Covid?

Vai ser claramente um prato cheio para toda a imprensa nacional e internacional. Vão colocar em grandes manchetes que produtores rurais promoveram aglomerações em Brasília em plena pandemia sem se importarem com a situação crítica que estão os hospitais, sem ter consideração com todos os profissionais de saúde que estão extenuados nos seus trabalhos de evitar o aumento do número de mortes. E é sabido que o índice de infectados sempre aumenta após um evento como este.

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A imagem do Brasil já está péssima no exterior. Qual a imagem que vai ficar para os compradores dos principais produtos agrícolas quando virem nos seus jornais, nas suas televisões, nos seus whatsapps, a manifestação acontecendo, com o apoio de entidades do agronegócio (diga-se de passagem, do dentro da porteira)? E aí, não adianta ficar indignado com toda a campanha contra o produtor rural ou tentar reverter a imagem diante da população da cidade porque o estrago já foi feito.

Durante a coletiva de imprensa de apresentação da nova diretoria de uma importante entidade do setor, o novo presidente confirmou que ela está apoiando o movimento, mas que tomarão todas as precauções. Que neste momento o pico da pandemia está arrefecendo, e que estão monitorando para caso seja necessário, transferir a data. Na sua resposta, disse em tom crítico que não concorda com decisões de Prefeitos e Governadores de decretarem rígidas restrições para controle da pandemia, mostrando um claro alinhamento de discurso com o Presidente da República.

É difícil crer que o posicionamento pessoal esteja sobreposto ao da entidade. Ainda mais quando se sabe que muitos produtores rurais estão morrendo pela Covid, ou ficando com sequelas que a doença deixa.

É o típico pensamento de olhar só para o umbigo e não para o corpo todo! Quando será que vão aprender alguma coisa com os grandes líderes!

A instituição prevalece sobre a pessoa

 

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