Será que um dia deixaremos de ser Belindia?

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O Brasil do agronegócio é exatamente o reflexo do Brasil urbano onde existe uma pirâmide social que separa as pessoas por renda e, consequentemente, classe social. Dentro da porteira também há uma pirâmide que estratifica o(a) produtor(a) por tamanho da propriedade e, por conseguinte, renda. Isto traz como consequência a necessidade de criar programas sociais de apoio a esta grande massa de produtores(as) para que tenham acesso mais facilmente a crédito, a tecnologias e assistência técnica no campo, a fim de poderem se manter na terra, produzir o alimento que todos precisam e, também, não migrarem para as cidades buscando melhores oportunidades de vida, criando, muitas vezes, bolsões de pobreza e transferindo para outras esferas públicas a necessidade de criar políticas de assistência a esta população.

O Brasil do dentro da porteira que juntos produziu cerca de R$ 1,129 trilhão em 2021, não consegue reverter boa parte desta renda gerada, para o seu benefício, para a melhoria de qualidade de vida a quem nele atua. De que adianta apregoar aos quatro cantos deste continental país, que a tecnologia 5G de telefonia está chegando, quando muitos lugares, bem perto da sede dos municípios, não têm acesso a luz, ou estradas com qualidade razoável que não se tornem um lamaçal logo na primeira enxurrada? Qual a razão de promover uma “lavagem” cerebral sobre a digitalização da agropecuária, quando, por exemplo, 80% dos pecuaristas não possuem em suas fazendas uma ferramenta básica que é a balança de pesagem do gado? Ou ainda, 60% deste grupo não sabe exatamente qual o tamanho do seu rebanho total ou por categorias?

Esta discrepância em várias pontas do dentro da porteira pode ser vista, de certa forma, como um forte freio no processo de crescimento de todo o agro e, consequentemente, na renda que ele gera para o país e para o próprio produtor. Gerando uma renda mais qualificada, ele(a) pode não só melhorar sua infraestrutura de produção, mas também se qualificar em termos de escolaridade e conhecimento. Estamos em 2022 e, até hoje, 54% dos produtores rurais não terminaram ou terminam o ensino básico! Pouco mais de 30% concluem o ensino fundamental. Como se vai ter absorção de novas tecnologias, saber aproveitá-las se o(a) produtor(a) não tem formação escolar suficiente para compreender como usar as informações geradas pelas tecnologias?

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Esta falta de escolaridade e, portanto, de massa crítica, mantém a estratificação social no campo, no mesmo formato da época do Brasil colônia. Quando algum destes produtores consegue romper a bolha, torna-se um exemplo de produtor bem sucedido porque ascendeu a outra condição social.

Parede uma coisa de revolucionário, mas se pensarmos que elevando as condições de produção para um nível melhor, oferecendo não só crédito e assistência, mas estradas de qualidade, telefonia, benefícios, que se eleve um degrau que seja na vida destas pessoas, a grande quantidade de produtores(as) que estão numa base de pirâmide, vai produzir com menor sacrifício, melhorar a sua renda e gerar mais riqueza. Isto por si só, geraria um movimento virtuoso em direção de deixarmos de ser uma Belíndia que é a mistura de Bélgica com a Índia.

Será possível ou é sonho?

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