Mais conectividade, melhor gestão, maior produção.

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Um dos balanços possíveis de se fazer após o término de 2019 e início de 2020, é a percepção de que a palavra conectividade esteve em grande parte das conversas e eventos ao longo do ano passado. Quase todas as empresas têm ou estão desenvolvendo algum produto, equipamento, aplicativo que se destina a conectar uma máquina com outra ou com o computador do escritório ou mesmo aos smartphones. E é impressionante perceber o veloz crescimento no número de startups ou de empresas já longamente estabelecidas, que oferecem seus serviços, sempre com a premissa de conexão via Bluetooth, internet, satélite ou alguma outra solução semelhante. E isto é extraordinário, fantástico porque boa parte desta tecnologia que está sendo desenvolvida já está incorporada ou em vias de ser implantada nas máquinas e equipamentos agrícolas. Ou seja, elas, as máquinas, já estão no mundo digital e isto não tem mais volta. E é possível dizer que quase não há mais diferença entre os produtos vendidos no Brasil e os que estão nos EUA ou Europa. E fica difícil conter este pensamento…que mundo fantástico este!

Mas…e muitas vezes aparece um, mas na vida, nem tudo é um mar de rosas. E, mesmo quando é, logo nos fazem lembrar que elas têm espinhos. Conectividade precisa de rede de telefonia móvel ágil, banda larga de internet, preferencialmente por fibra óptica, para que os dados transmitidos circulem rapidamente para todas as pessoas que estão precisando deles. E, é neste momento que, no campo, a banda toca diferente do que toca na cidade.

Já explico. O Brasil é um país de contrastes. E de regramentos um tanto estranhos, para dizer o mínimo. Creiam. A população que mora na cidade e que num clicar de dedo em sua tela touch do celular acessa milhares de informações, não imagina que esta facilidade não chegou ao campo. Centenas de propriedades rurais, muitas vezes, só conseguem usar o telefone celular, na banda 2G, a mais antiga e uma das primeiras a ser comercializadas no País. E só realizam este feito porque sobem num morro, vão para um descampado ou alguma outra peripécia do gênero. E já estamos no final da segunda década do século 21.

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Veja, se formos pensar que o produto que sai da indústria chamada campo/fazenda, é o alimento de milhões de pessoas que vivem nas cidades, não era de ser justamente o contrário ou pelo menos igual? O agronegócio representa cerca de 40% do total do PIB brasileiro que em 2018 foi de R$ 1,716 trilhão. Vamos considerar que 15% seja produzido por quem vive nas zonas rurais, longe dos centros urbanos. Não seria justo que os investimentos

em infraestrutura de telefonia principalmente para acesso a rede de dados (internet) fosse no mínimo igual aos das cidades? Afinal, todos no campo também querem se conectar de forma ágil para melhorar a comunicação entre si e poder tratar de negócios, tanto quanto as empresas da cidade, não é? E para que o campo possa produzir melhor e nos mesmos níveis de competição que seus concorrentes é preciso ter acesso à internet. E isto não acontece. E é aí que vem a parte estranha das regras. A legislação da privatização de telefonia no Brasil permitiu que as operadoras fizessem instalações das suas redes em grandes centros urbanos, onde há maior demanda pelos seus serviços, mas não as obrigou a atender da mesma forma as áreas rurais. Assim, e muitos de vocês já devem ter passado por isto, saiu alguns quilômetros da zona urbana, você está no limbo, fora do mundo!

Máquinas conectadas – Mas porque falar do problema da telefonia no campo? Porque boa parte das máquinas agrícolas brasileiras já estão no mundo digital. Cada vez mais e mais elas incorporam computadores de bordo, sistemas de telemetria, piloto automático, aplicativos, sensores via satélite que fazem a leitura em tempo real da situação da lavoura, plataformas de inteligência artificial e uma infinidade de tecnologias que dependem e muito do acesso à rede de telefonia e de transmissão de dados, para enviar as informações do campo para o escritório e vice versa. E, com isto, dar rapidez na tomada de decisões sobre as atividades planejadas para aquele turno ou dia. Afinal, a propriedade rural é um negócio, uma fábrica de alimentos, e como tal, precisa de agilidade nas suas comunicações para que as ações a serem tomadas sejam as mais corretas e, por consequência, se tenha o produto final para vender e ter lucro. Não é assim com as empresas que estão nas cidades?

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E como ofertar máquinas agrícolas com todas estas ferramentas se o produtor não puder utilizá-las de forma adequada? Atualmente os sistemas estão programados para que, quando passar por uma zona que tenha sinal, o computador se conecte e transmita todos os dados que foram armazenados até aquele momento, ou então somente no final da jornada, quando a máquina retorna para a sede da fazenda descarrega os dados via sinal de Wi-Fi direto para o computador do gestor. Qualquer correção de percurso fica mais difícil de ser feito em tempo real. E só se terá maior agilidade, maior produção, se houver acesso à conexão via internet, sem isto, fica difícil.

Por conta desta situação, algumas empresas, por iniciativa própria, lançaram programas de conexão para o campo. Mas em realidade, creio que já esta na hora das entidades representativas do agronegócio, respaldado pelos seus mais de R$ 1,7 trilhão de PIB, pressionarem o Governo Federal em busca

de uma solução e chamarem à mesa as operadoras de telefonia instaladas no Brasil e outras que queiram se instalar ou competir, para um encontro com fins específicos de trazer uma solução para este nó. Afinal, o agronegócio também é um forte consumidor dos serviços de telefonia e, se este nó não for desfeito, nossa agricultura, considerada uma das mais modernas em climas tropicais, vai parar no tempo, porque não vai ter como se comunicar adequadamente. E, creio que, sem conexão, não tem como aumentar a produção. E sem produção suficiente e eficiente, não tem alimento para atender o crescimento populacional. Simples assim!

André Rorato – Vice-presidente LS Mtron Brasil – LSMB

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Foto: Nilson Konrad

 

 

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