A Culpa é da Herança Cultural?

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Na semana passada (final de setembro 2020) cometi um ato falho durante uma entrevista que realizei para o programa de rádio que produzo, o Depois da Porteira. Conversava com o entrevistado e mencionei que a decisão de compra de nova tecnologia ou equipamentos na propriedade rural, pode ser influenciada pelo filho, mas quem realmente bate o martelo é o pai ou mesmo o avô. A grosso modo, pode não ter qualquer relevância esta afirmação, mas depois de ter ouvido a informação de que há um expressivo aumento no número de mulheres administrando sozinhas as propriedades rurais e assumindo funções que antes estavam nas mãos do seus pais ou avôs, reconheço que é uma afirmação com um viés machista. É o mesmo que fazer aquela pergunta para a mulher, se marido ajuda em casa, quando a questão deveria ser se ele reparte as funções da casa já que os dois moram no mesmo lugar.

Tenho visto filmes e séries que mostram repetidamente o quanto as mulheres sofreram para serem consideradas seres humanos com plenos potenciais para desenvolverem as mais diversas atividades e não somente às relacionadas a cuidados da família e da casa, por consequência. E como foram mal tratadas às que “ousaram” quebrar estes grilhões. Exemplo recente é de Ruth Ginsburg, falecida agora em setembro, aos 89 anos e primeira mulher a ocupar uma cadeira na Suprema Corte dos EUA, o que aconteceu somente em 1993. Em sua primeira ação, enfrentando, como advogada, um tribunal, nos idos dos anos 70, foi extremamente desconsiderada por dois dos juízes e por seus oponentes, por ser mulher. Sua ação, se vencida, conforme diziam os advogados defensores do Estado, iria causar uma desestrutura na família americana.

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Outro filme que está dentro do tema desconsiderações sobre um ser humano, é o Guia Verde, que listava todos os lugares onde um artista negro de renome, poderia ou não se hospedar, comer, sair para uma cerveja, nos EUA. Isto, nos anos 60. Mostra ainda como uma sociedade rejeitava plenamente a existência dos negros, mas os “aceitava” se fossem bons artistas e os contratavam para os entreterem, como se fosse “algo pitoresco”. (Grandes nomes do jazz e do blues, estão nesta lista).

Quantas vezes você já pensou em trocar de calçada porque na sua direção está vindo um homem afrodescendente vestido com roupas comuns? Ou quando o mesmo homem está dirigindo um carro chique, pensar que ele só pode ser o motorista? Quantas vezes você já contou, entre amigos, piadas de bichas e viados? E quantas vezes você já pensou que aquela mulher só está naquele cargo porque transou com o diretor? Ou ainda que ela está daquele jeito porque é mal amada (comida)? E, por fim, quantas vezes fez uma autocrítica, vendo que passou por alguma destas situações, mas que na verdade, realmente não faz parte da tua forma de pensar/agir?

A espécie humana surgiu na terra, segundo estudos, há 350 mil anos. E como a conhecemos hoje, com seu modo de comportamento, a raça tem pouco mais de 50 mil anos de existência. Mas ao longo deste tempo construiu e desconstruiu conceitos e formas de viver. Criou regras e pensamentos. Escravizou civilizações e, por isto, se achou no direito de achar que escravos não tinham qualquer valor, mesmo depois de libertos. Tudo isto colocado por anos e anos a fio, num caldeirão, formou o que podemos chamar de herança cultural. E que faz com que, muitas vezes, digamos coisas que nem mesmo pertence ao nosso modo de ver a vida.

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Ah, então tudo o que eu faço é por causa desta tal herança cultural? NÃO. Há coisas que sim, mas grande parte, já se tem consciência para mudar, quebrar os padrões ancestrais e ensinar às novas gerações que novos modelos e pensamentos devem ser implantados na cultura de um povo, principalmente, respeito a todos os seres humanos, independente de origem, credo, etc. É um grande exercício, precisa ter uma grande força interna para romper padrões. Mas se tiver a coragem de não se acomodar, aos poucos, a mudança vem. Afinal, ser herança cultural, não é um grilhão que te amarra para o resto da vida. Portanto, liberte-se.

A Culpa é da Herança Cultural?

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