Ultimamente temos presenciado acontecimentos sociais decorrentes da crise alimentar que se instalou em várias economias emergentes pelo mundo, como por exemplo: protestos de ruas, revoltas populares, políticas etc. Estes acontecimentos, além de expor o quadro de insegurança alimentar em que vivem diversas pessoas, podem culminar com a derrubada de governos, tal como aconteceu recentemente no Sri Lanka.
No universo das economias emergentes, calcula-se que aqueles países com maior risco de inadimplência (possibilidade que ocorra o calote da dívida externa) e que estão sujeitos a enfrentar crises humanitárias, representam 18% da população global, ou 1,4 bilhão de pessoas. A conjuntura internacional pós-pandemia e a guerra da Ucrânia, desestabilizaram as cadeias produtivas em todo o mundo, e impôs aos países importadores de alimentos um preço muito alto a pagar pelas commodities agrícolas, situação agravada pela alta dos juros internacionais. Esses países, há tempos, carecem de uma política de segurança alimentar eficiente.
O gráfico da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), exemplifica bem a situação mundial, mostrando os indicadores de preços de alimentos globais nas máximas históricas. Descontando o poder de compra da moeda, os alimentos subiram mais de 50% em termos reais, em relação ao início de 2020, pré-pandemia.
Sendo assim, parece evidente e urgente a necessidade de vários países emergentes em diminuir a dependência das importações de alimentos. Considerando que a maioria desses países estão situados na região do cinturão tropical do planeta, abre-se uma interessante janela de oportunidade para o Brasil. O país, atualmente, é o único com conhecimento técnico suficiente capaz de oferecer um pacote tecnológico agropecuário completo, robusto, consistente e apropriado para produzir alimentos de maneira competitiva e de qualidade nessa região do planeta.
É imperativo aumentar a segurança alimentar dos países emergentes, não só por questões humanitárias como para manutenção da paz social, principalmente daqueles países mais vulneráveis localizados no continente Africano. Por conta disto, o Brasil, tem muito a contribuir com esse objetivo. Por exemplo, nos trabalhos desenvolvidos em Moçambique no ano de 2017, que culminaram na introdução da mecanização agrária e no uso de insumos apropriados, a produtividade de milho amarelo e de soja convencional subiu mais que 100% na primeira safra, em relação a média nacional, e continuaram subindo nos anos subsequentes.
Segundo a FAO, para atender a demanda por alimentos no ano de 2050, a produção mundial deverá crescer 61%, com participação de 41% do Brasil nesse total, ou seja, possuímos um papel crucial nesse cenário mundial, não somente de aumentar a nossa produção de alimentos, mas também de ajudar outras nações a fazê-lo, criando um futuro alimentar sustentável para humanidade.
Por Cleber Guarany – Presidente do CIITTA