A indulgência era um perdão que a Igreja oferecia às pessoas que se arrependiam de seus pecados. Tratava-se de uma espécie de carta vendida pela Igreja aos fiéis. Ao comprá-la, os cristãos estariam recebendo o perdão dos pecados cometidos. A venda de indulgências transformou-se em um comércio que colaborou, principalmente durante os anos da baixa Idade Média, para o acúmulo de bens, dinheiro e terras pela igreja católica.
A famosa frase de Lavoisier diz que “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Mas há a sua versão popular recriada a partir de muitos fatos. “Na vida, nada se cria, tudo se copia”. E eis que a nova onda de movimento ambiental é a redução do carbono na atmosfera a fim de diminuir os efeitos que este gás promove no aquecimento global. Penso que sim, é preciso ter uma consciência e mudança de atitude com relação ao uso dos recursos naturais da Terra. Buscar um equilíbrio entre a nossa existência e o que podemos extrair do planeta, para sobrevivermos nele.
Mas esta onda tem um tom de hipocrisia por parte de muitas indústrias estabelecidas nos países desenvolvidos. É, na minha opinião, um movimento semelhante ao das indulgências da idade média. Criaram um instrumento que é o crédito de carbono. Estimulam países pobres, ao redor do mundo (Brasil inclusive) a montarem toda uma estrutura de pesquisa e cálculos sobre o quanto tal atividade sequestra de carbono, cobram das empresas destes países para quem sejam carbono neutro e vêm com a proposta de comprar os créditos que estas empresas produzem.
Comprando estes créditos, chegam nos órgãos mundiais e nos seus países, com o papel e dizem que estão agindo conforme as regras. Mas, em seus países, vão continuar poluindo, emitindo carbono para toda a atmosfera. Só que como compraram os créditos, estarão “perdoadas”. E todo o mundo fica feliz porque, afinal, está se cumprindo a meta de redução da pegada de carbono!…É a tal da atitude “prá inglês ver”, onde se maquia um erro com uma boa atitude, feita por outras pessoas.
O que acontece, ao final, é que a prática dos “pecados” vai continuar porque assim como na idade média, onde nenhum comprador das indulgências parou de fazer o mal que fazia, aqui, na segunda década do século XXI, as empresas ou quem quer que esteja praticando a emissão de carbono, não irão mudar suas atitudes. É muito caro fazer isto. Sei que no agronegócio há toda uma movimentação em busca da regulamentação dos créditos de carbono, avaliação de quanto pode render, e muitos produtores entusiasmados com a possibilidade de ganhos extras com este mercado. Só que em realidade, estão participando de uma farsa porque, ao que parece, não há realmente interesse em reduzir o impacto da presença humana neste planeta. E convenhamos, fazer de conta é muito mais prejudicial do que dizer que não pretende fazer, não tem interesse em fazer, mesmo que isto tenha consequências. É a verdadeira fachada bonita com uma casa toda podre por dentro.