A tonelada solidária

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O Brasil deve produzir cerca de 13 milhões de toneladas de arroz e 3,1 milhões de toneladas de feijão (todos os tipos). Também será produzido cerca de 6 milhões de toneladas de trigo e mais de 28,508 milhões de toneladas de carne (bovina, de frango, suína e peixe) e 35,7 bilhões de litros de leite. Esta é a lista de produtos básicos da alimentação do brasileiro. Ou pelo menos daquela parte que consegue ter recurso para se alimentar de um ou mais destes produtos por dia.

Na semana passada o jornalista, publicitário e professor de marketing para o agronegócio José Luiz Tejon, disse que foi provocado a pensar uma solução para a fome na África, pois segundo a ONU, neste ano de pandemia mais da metade das crianças do Iêmen passarão fome e milhares de mães não terão leite para nutrir seus bebês. E Tejon discorre sobre o sonho de o Brasil ser um importante ator na segurança alimentar mundial, com a proposta de apoiar a produção agrícola nacional com o objetivo de produzir duas toneladas a mais de arroz e uma de feijão para ser distribuído a estes países que passam fome. Na visão dele seria possível conseguir recursos de fundos internacionais para apoiar aos produtores brasileiros na produção destes alimentos.

A tonelada solidária

Enquanto ouvia este comentário pensei diretamente nas pessoas que passam fome no Brasil. Segundo o IBGE, são 51,8 milhões de brasileiros que vivem na linha abaixo da pobreza, tentando viver com R$ 151,00 de renda mensal. E me perguntei, porque produzir mais para alimentar outros países se temos este contingente enorme de pessoas aqui, passando dificuldades? Tejon, em seguida me respondeu. Parte desta produção ficaria no País, para ser distribuída a quem passa fome e necessidade.

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Nos primeiros meses da pandemia, no ano passado, dezenas de campanhas foram feitas para arrecadar recursos, alimentos para os que estavam passando dificuldades com a paralisação da economia. Depois de um tempo, não se ouviu mais falar de doações, parecendo que a situação foi resolvida. Todos sabem que o problema econômico que a Covid trouxe é grande. Foi um dos fatores que provocou o aumento do número de desempregados, portanto de pessoas com necessidade. O auxílio emergencial aliviou um pouco a pressão, mas não resolve o problema em si que, na realidade, existe há anos.

Surfando no sonho do Tejon, pensei em inverter o projeto e realmente buscar ao máximo reduzir o problema da fome no Brasil, usando estas fontes financiamento agrícola internacional destinando recursos a produtores destas culturas com o objetivo de conseguir aumentar a produção, pagando preços justos e distribuir estes alimentos a populações carentes do País. O excedente, doado a países com as mesmas necessidades. Porque não adianta o Brasil ser hoje, um dos principais players na produção de alimentos, soja, milho, carnes, exportar bilhões de reais para fora e ter, na sua própria “casa”, milhões passando fome. É uma incoerência e venda de uma imagem enganosa para o exterior. Há uma velha máxima que diz: arrume a sua casa primeiro, depois limpe a do vizinho.

 

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