A casa mais vigiada do Brasil segue sendo um observatório psicológico das relações e comportamentos humanos. Tanto que, na última semana, a internet ferveu com comentários, após um diálogo no jardim, entre os brothers Davi e Isabelle, de que o baiano estava praticando o famoso abuso psicológico sútil e despretensioso com a amiga – gaslighting.
Na conversa, entre eles, o jovem tenta manipular a manauara a aceitar seu ponto de vista, sem permitir que a mesma exponha sua opinião diante dos fatos. Mas por que esse comportamento de Davi poderia ser enquadrado como uma manipulação psicológica?
Várias são as formas de abuso psicológico que um ser humano pode sofrer. No entanto, temos um tipo de abuso que é muito característico por ser, de certa forma, “invisível”, que não deixa marcas físicas, sendo, portanto, difícil de ser analisado e penalizado.
É o gaslighting, tipo de abuso no qual a vítima quase nunca tem consciência de estar sendo abusada. Ou pelo menos, não como se entende geralmente o termo, já que não há uma agressão clara.
Mas sim, a agressão existe, acontece muito e vem disfarçada de ações que podem camuflar a perversidade do processo em si. A melhor definição seria de uma manipulação sutil, na qual o abusador enfraquece a autoestima, o amor próprio e a confiança da vítima (pode ser o homem ou a mulher), fazendo com que ela se coloque cada vez mais submissa, dependente e, se anulando a tal ponto que, ela não consegue ter a clareza destes atos perversos e colocando em dúvida suas próprias emoções e seus medos.
Uma prática devastadora cuja dinâmica mostra que na cabeça da vítima, o abuso não está acontecendo, e ela acaba achando que ela é realmente culpada. Em grande parte das situações, ela deixa de ter voz, pois é menosprezada em seus pontos de vista, chegando até a se fechar de tal forma que vai se anulando cada vez mais.
A dificuldade em se identificar ou denunciar este tipo de abuso psicológico está exatamente no fato de que, a vítima quase nunca tem consciência de estar sendo abusada e uma das características deste processo é que o agressor usa de estratégias perversas para fazer com que a vítima tenha dúvidas sobre os fatos e acredite que tudo não passa de invenção, paranoia ou uma histeria de sua cabeça.
Faz com que ela pense estar sempre equivocada e exagerando em suas proposições. E no meio desta confusão de sentimentos, muitas vezes se fecha ou se cala, por acreditar que está mesmo errada e que o abusador está com a razão.
E, de forma a reparar suas “falhas”, ela pode acabar entregando a ele sua capacidade de discernimento sobre os fatos e sobre sua vida de forma geral.
Porém, os problemas e possíveis transtornos psicológicos, surgem por ser complicado provar, já que dificilmente existe uma violência explícita. Uma das principais características desse abuso psicológico é a alteração da percepção de realidade da vítima, que anula sua consciência e cria a negação de que vive em meio a uma atmosfera abusiva. Tudo se torna muito confuso aos seus olhos e se confunde se está no papel de vítima ou de abusador (a).
Enfim, as discussões dentro do BBB 24, ajudam na observação e avaliação, quanto aos tipos de comportamentos praticados, sejam eles tóxicos ou não. Em relação ao Gaslighting, fica a dica para que estejamos sempre atentos a este abuso quase imperceptível que, requer o resgate da autonomia, liberdade de expressão e elevação da autoestima da vítima.
Além da busca por uma consciência mental, que descarte a opressão e a perversão camufladas nos atos praticados pelo agressor.
Dra. Andrea Ladislau / Psicanalista