A cadeia do açaí e derivados movimenta mais de US$ 720 milhões por ano no mundo, de acordo com boletim publicado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E o Brasil, maior produtor do fruto no mundo, produz mais de 1,5 milhão de toneladas por ano, segundo IBGE. A fruta também é encontrada em outros países próximos, como Venezuela, Colômbia, Equador e Guianas. O mercado desse importante produto da economia amazônica tem se mostrado crescente, apresentando uma perspectiva de taxa de crescimento de mais de 12% para os próximos anos.
Além de ser muito valorizado pelo seu caráter nutricional – por possuir elevado potencial antioxidante – pela indústria alimentícia, nutracêutica e cosmética, o açaí possui uma cadeia de produção que traz importantes benefícios sociais, econômicos e ambientais para a Amazônia.
O Censo Agropecuário IBGE 2017 aponta que a cadeia beneficia aproximadamente 150 mil famílias de extrativistas e agricultores familiares. A maioria deles organizadas em quase 200 empreendimentos comunitários (cooperativas e associações) na Amazônia, como aponta levantamento realizado pelo projeto Mercados Verdes. Com base em estudo realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Estado do Pará, estima-se que aproximadamente 300 mil pessoas estejam envolvidas na cadeia do açaí, entre produtores, batedeiras, indústrias, varejos e serviços em geral.
Historicamente, o açaí representa subsistência
O açaí com farinha de mandioca é o arroz e feijão do Norte. Juntos, esses dois alimentos fornecem a base de nutrientes necessários para aguentar o dia: carboidratos, proteínas, gorduras e vitaminas.
Uma típica cuia de açaí com farinha passa facilmente das 500 calorias – um quarto do que um ser humano médio precisa comer todos os dias para se manter de pé.
Alimentos com tamanha importância geralmente ganham destaque na mitologia de um povo. Os astecas, por exemplo, acreditavam que o milho era, literalmente, um semideus. Não é diferente para o açaí: ele tem a própria história de origem sobrenatural, que reflete perfeitamente a relação da população com o fruto.
Na lenda, uma tribo indígena que vivia onde hoje é Belém viu sua população crescer muito rápido – mais rápido do que a oferta de comida. O cacique tomou medidas drásticas para evitar a fome, e condenou todos os recém-nascidos à morte. Sua filha, Iaçã, estava grávida, mas nem a neta do líder foi poupada. Iaçã ficou desolada e pediu ao deus Tupã que acabasse com o sofrimento da tribo. À noite, ela ouviu o choro de uma criança, e seguiu o som até a floresta.
No dia seguinte, Iaçã foi encontrada morta na base da palmeira. Seus olhos, abertos, fitavam o topo da árvore, na direção de pequenos frutos que balançavam nos galhos. A tribo passou a se sustentar com um suco roxo feito a partir da fruta e aboliu a política de sacrifício. Açaí, veja bem, é Iaçã ao contrário.