Projeto executado pelo Parque Vida Cerrado visa à promoção da sustentabilidade rural e a conservação da biodiversidade no Cerrado do Oeste baiano
Nove noites de armadilhamento e captura de um lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Este foi o saldo da segunda fase do Projeto Conecta Cerrado: iniciativa executada pelo Parque Vida Cerrado – primeiro e único centro de conservação da biodiversidade, pesquisa e educação socioambiental do Oeste baiano, localizado no município de Barreiras – que tem, no animal desta espécie, o principal alvo de observação de uma pesquisa inédita para a região. O lobo-guará é o animal bandeira do projeto por ser considerado um jardineiro do Cerrado, de extrema importância para a manutenção das áreas verdes e do equilíbrio ambiental.
O animal capturado foi uma jovem de aproximadamente quatro anos, pesando 26kg e medindo 77cm de altura. Mafalda, como foi chamada a primeira loba do projeto, apresentava boas condições físicas. “O canídeo foi anestesiado e passou por um check-up completo. Foram realizados diversos exames clínicos e físicos para avaliar o estado de saúde e as possíveis doenças que circulam na população local. Após este protocolo, o animal foi liberado pela equipe na Reserva Legal da propriedade rural onde ocorreu a captura. O animal estava clinicamente bem”, destaca a médica veterinária do parque e líder de fauna do projeto, Paula Damasceno.
Além da Mafalda, outros três indivíduos adultos rondaram as armadilhas durante as nove noites da operação, mas não entraram. “Esse dado pode ser um indicativo da boa qualidade das reservas e APPs da região, já que os animais não estavam com fome suficiente para se arriscar atrás das iscas na armadilha. Mesmo no auge da seca eles estão encontrando alimentos na natureza”, complementa a bióloga do parque, Gabrielle da Rosa, responsável pela liderança, coordenação das ações e monitoramento do projeto.
O armadilhamento na região prossegue até o mês de junho/21, com a expectativa de mais duas campanhas de captura nas demais propriedades rurais que estão participando do projeto, com o objetivo de levantar dados sobre o estado de saúde e a interação dos lobos-guarás na paisagem do Oeste baiano. A primeira fase do componente de fauna do projeto foi marcada pela instalação estratégica de armadilhas fotográficas nas bordas e no interior de reservas legais, ainda no mês de fevereiro, em diferentes propriedades rurais de Luís Eduardo Magalhães e Barreiras. Uma vez por mês, após a fixação das câmeras, uma equipe do projeto fez a checagem, coleta de dados e troca dos cartões de memória.
O Projeto Conecta Cerrado
O Projeto Conecta Cerrado é uma iniciativa pioneira na região Oeste da Bahia para o levantamento de fauna nas reservas legais e APPs rurais, em especial das fazendas ligadas à produção de soja nos municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães. Através destes dados faunísticos, obtidos pelo monitoramento da espécie Chrysocyon brachyurus (lobo-guará), será possível avaliar a efetividade das áreas protegidas, identificar corredores ecológicos, apontar áreas com potencial para ampliação, estimular a conectividade dos remanescentes florestais para propiciar maior sustentabilidade às propriedades agrícolas e assegurar a conservação da biodiversidade do Cerrado.
Além da restauração de áreas degradadas e da criação de novas unidades de conservação, o projeto prevê a implantação de sistemas agroflorestais, estruturação e fortalecimento da cadeia da restauração, disseminação do conhecimento técnico-científico, implantação e funcionamento de um viveiro referência na produção de espécies nativas e reestruturação da rede de coletores de sementes. O projeto deve tornar-se um modelo de negócio referência na restauração florestal e na obtenção de metodologias para avaliações de áreas prioritárias para a sustentabilidade rural e a conservação da biodiversidade do Cerrado.
O projeto é financiado pela iniciativa global Parceria para o Bom Desenvolvimento (The Good Growth Partnership), executado no Brasil pela Conservação Internacional em parceria com o Instituto Lina Galvani e o Parque Vida Cerrado e conta com a transferência de expertise em captura e monitoramento de fauna do Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Pró-Carnívoros). Conta também com o apoio técnico do ICMBio-CENAP e UnB, além da participação do fotógrafo Adriano Gambarini.
Ascom Parque Vida Cerrado