Da procrastinação a autossabotagem

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Começando pela definição, procrastinar é adiar propositalmente uma tarefa, sabendo que precisa ser feita dentro de determinado prazo, sem que seja replanejado de forma estratégica. O ato de procrastinar é diferente de definir um novo momento para realizar tal tarefa.

Em tempos de entretenimento fácil e acessível na palma das mãos, da busca por informações rápidas e prazeres efêmeros, fica muito difícil não procrastinar algumas vezes, não é mesmo?  Afinal, escolher entre ver mensagens WhatsApp, vídeos no YouTube ou Tiktok ou uma leitura mais densa, que exige um maior esforço intelectual, é muito melhor ficar com a primeira opção.

E assim a gente vai se convencendo de que ‘parar só pouquinho’, ‘tirar uma pausa’ ou ‘fazer daqui a pouco’ não vai interferir no nosso desempenho. Entretanto, isso pode virar uma ‘bola de neve’. Por exemplo, se você assiste a um vídeo e acaba gostando, provavelmente assistirá o seguinte, já que temos o entendimento de que um vídeo é rápido. E, assim, vídeo após vídeo, a tarefa que precisava ser feita acaba negligenciada, adiada. O prazer imediato gerado por outras atividades rouba a nossa intenção de produzir.

Percebemos o valor das responsabilidades e, justamente isso, é o que pode nos afastar delas. Muitas vezes, a insegurança, a pressão por fazer bem-feito contribuem para adiar as obrigações. Neste sentido, realizar atividades secundárias e prazerosas ao invés da prioritária ajuda a tirar o foco de tensão. E aqui falamos tanto de atividades profissionais quanto das atividades pessoais, como fazer uma caminhada, iniciar uma dieta, arrumar um guarda-roupas.

A procrastinação surge na tentativa de aliviar qualquer mal-estar relacionado a realização de uma ação, que se apresenta para o indivíduo de forma chata ou difícil, e assim ele começa a empurrar ou a se convencer de que pode fazer isso mais tarde. Outra motivação para procrastinar está associada à insegurança que a pessoa apresenta para realizar uma atividade e por pensar que não é capaz de realizá-la, ou por ter se frustrado anteriormente, como fuga, adia o sofrimento de fazê-la. Entretanto, com a procrastinação surge um outro problema: quanto mais adiamos, maior o estresse e a cobrança, e mais difícil pode se tornar realizar aquela ação.

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A procrastinação pode nos levar a sentimentos negativos como:

– Culpa: o prazer imediato bloqueia qualquer sinal de arrependimento que está por vir. Mas, quando o momento passa, sentimos culpa.

– Ansiedade: o adiamento pode ser a tentativa de não fazer agora algo que te deixa ansioso. Nesse caso, o que está na raiz do problema da procrastinação é a ansiedade provocada pelo afazer. Essa ansiedade sinaliza a existência de um conflito interno relacionado à atividade que está sendo procrastinada, seja o medo do fracasso ou até do sucesso, raiva de quem a solicitou ou qualquer outra razão afetiva como essas. E, por outro lado, o adiamento acaba provocando mais ansiedade, a pessoa se vê com um acúmulo de tarefas, muitas vezes nem sabendo por onde começar.

– Estresse: as obrigações de amanhã não vão esperar que as de hoje sejam feitas. Então, o que antes poderia ter sido feito com calma será construído em cima de muita tensão e desespero, o que pode comprometer o resultado.

– Baixa autoestima: E isso, por sua vez, pode afetar a confiança do indivíduo, tão necessária para a realização das tarefas diárias. Isso impacta e reforça uma autoestima que já é baixa.

Para a psicologia, a procrastinação é uma defesa emocional que pode ter origem na infância, como forma de nos protegermos. Por exemplo: uma pessoa que foi criada por cuidadores muito autoritários, exigentes pode desenvolver um mecanismo de proteção contra o sofrimento e o medo de falhar. E a procrastinação pode levar a uma autossabotagem.

Mas o que é a autossabotagem? É sabotar a si mesmo, agir contra seus planos e desejos. É um processo inconsciente em que nos colocamos contra nosso próprio sucesso. Isso pode acontecer por questões emocionais, como por exemplo, a pessoa, sem se dar conta, não querer ter mais sucesso que seu pai. Na autossabotagem, o indivíduo não se sente merecedor de ser bem-sucedido, acredita que fez muito pouco para merecer, foca sempre no que falta e não no que já conseguiu alcançar. Pode parecer estranho para alguns, mas, na terapia, vemos na prática que isso acontece e muito.

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Por que a procrastinação e a autossabotagem andam juntas? Se o ato de procrastinar se torna um hábito, inconscientemente a pessoa pode começar a subestimar o tamanho de uma tarefa, a necessidade de ser feita, o impacto que ela pode ter no seu trabalho e, por exemplo, se autossabotar.

Pode-se dizer que a procrastinação pode despertar sentimentos negativos e baixa autoestima, levar à uma maior ansiedade, estresse e depressão e, estando relacionada a autossabotagem, prejudicar a produtividade, e a carreira, relacionamentos e até mesmo a saúde. Mas, procrastinar é uma escolha e pode ser mudada!

Algumas Dicas:

– Não pense muito, dê o primeiro passo para realizar as tarefas que não são prazeirosas, mas que têm de ser feitas. Faça logo e sinta-se satisfeito por já ter feito aquilo que era muito chato;

– Descubra em qual momento do dia você rende mais para realizar as tarefas que são mais chatas, mais difíceis. Uma hora elas terão mesmo de ser feitas, então aproveite para realizá-las quando estiver mais disposto;

– Responsabilize-se, reconheça e admita que procrastina, e pare de culpar terceiros ou situações para amenizar nossa própria culpa. Sinta-se responsável por suas ações;

– Seja organizado, montar um cronograma ajuda a nos mantermos na meta e evita interferências. Entretanto, não estipule metas arrojadas, defina o que é possível, caso contrário você pode se frustrar e procrastinar ainda mais;

– Por mais que o seu prazo seja curto, procure fazer uma tarefa por vez, já que, além de garantir sua realização, a qualidade também fica preservada;

– Motivação: encontre uma motivação, um objetivo final ao concluir alguma tarefa. Pense no que pode conquistar a cada trabalho terminado. Se funcionar para você, estimule um “pequeno prêmio” ao final de cada atividade, como tirar 5 minutos de pausa, responder mensagens ou tomar um suco por exemplo;

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– Identifique quais são os fatores que lhe causam distração e tente ficar longe deles. Se sua distração está nas redes sociais, não entre nem para dar uma olhadinha, deixe o celular no silencioso, em uma gaveta. Se for a televisão, a mantenha desligada e fique em outro cômodo, se possível. Sem interferências externas pode ser mais fácil fazer o necessário;

– Para não se autossabotar tenha claro o que deseja. Muitas vezes, o que estamos tentando não é realmente o que queremos e aí a tentativa pode não ter mesmo sucesso;

–  A terapia é uma ferramenta importante para entender quais motivos emocionais estão por trás da procrastinação e da autossabotagem, entender o que está te impedindo de prosseguir, melhorar a autoestima e desenvolver novos comportamentos. O autoconhecimento ajuda muito a entender nossas atitudes e esse pode ser o primeiro passo para realizar mudanças.

Fonte: Efetiva Saude

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