Há muitas histórias, livros, filmes onde um dos personagens em algum momento percebe que passou grande parte de sua vida buscando o reconhecimento e amor dos pais. Não ter este reconhecimento gera uma sensação de não ter sido amado e, como conseqüência, uma baixa auto estima o que acaba interferindo nas suas atitudes ao longo da vida. Por mais que ele consiga construir bons projetos, seja reconhecido na vida profissional e pessoal, sempre vai sentir falta deste afago na sua alma que ele acredita, nunca ter tido. E, muitas vezes, também acaba não vendo o quanto as pessoas que estão na sua volta, lhe querem bem, lhe estimam, admiram e o reconhecem como ele sempre desejou. Não, isto não é um artigo de psicologia!
Uma baixa auto estima gera o sentimento de que nada que se faça está bem e será acolhido, reconhecido. Por mais que os outros digam de várias formas, há sempre um “será que eu sou tudo isto mesmo”? Mas não estou falando de uma pessoa e sim, de um setor. Talvez por um fato histórico e cultural o Agro, como estão chamando neste momento, tem reclamado constantemente que a população que vive nas cidades não reconhece sua importância, não lhe dá o devido valor. Valor este que está explícito quando a população urbana vai se alimentar de produtos que saíram do campo.
Mas o Agro que reclama é o que está dentro da porteira, assim chamado porque inclui a todos que estão nas propriedades rurais, os produtores. Lá pros idos dos anos 60 e até 70, a pessoa que tinha uma fazenda geralmente era chamado de caipira, no sentido ruim da palavra, porque tinha, muitas vezes, a pecha de ser um ignorante, sem formação escolar e, portanto, “burro”. Tínhamos até sua representação no Jeca Tatu ou no Mazzaropi. De qualquer forma a população rural era bem maior que a urbana, mas o Brasil importava alimentos.
A partir da fundação da Embrapa, que trabalhou intensamente na formação de uma agricultura tropical, o cenário foi mudando. Cursos superiores de agronomia, veterinária, zootecnia e agrícola foram sendo instalados Brasil afora e as tecnologias sendo introduzidas no campo. A imagem de um produtor Jeca Tatu foi se transformando para a de um empreendedor rural, que enfrenta desafios tão intensos quanto os empresários urbanos. A produção de alimentos foi crescendo e hoje o Brasil exporta para centenas de países, uma diversidade de produtos. Elogios e elogios mundo afora. Mas…parece que isto não está bastando para a alma do produtor ficar em paz. Ele continua querendo que “aqueles pais” lhe digam em alto e bom tom, que ele é o melhor filho e que é insubstituível.
Em um artigo escrito em 2018, o jornalista, publicitário e professor de marketing da ESPM/SP, José Luiz Tejon, relata uma pesquisa feita pela FIESP, sobre a percepção da cidade em relação aos produtores rurais. O resultado é que ela os adora. Conforme ele diz, “A imagem dos produtores rurais é majoritariamente positiva, com 72%, e o agronegócio idem, com 62%”.
O engraçado neste processo é que toda a vez que um produto sobe consideravelmente a cidade reclama e acha que a culpa é do produtor. E aí, aflora novamente todo o sentimento de baixa auto estima dele, que sai reclamando que ninguém gosta dele. Os psicoterapeutas já dizem que isto só se cura, com um olhar interno, com a construção de valor a partir de si mesmo. Tem uma frase que sempre me chamou a atenção, e foi usada para refletir sobre o ano que estava começando. “Ou você faz, ou você chora!” Então, talvez esteja na hora do produtor mudar, parar de esperar o afago externo, dar valor ao que ele faz e começar, a mostrar para todos o valor que ele tem. Afinal, se eu não me dou o respeito, quem vai dar!!
Nota: Interessante assistir a estes vídeos que fazem parte de uma campanha de valorização de quem está no campo, produzindo alimentos.
https://www.youtube.com/watch?v=FN8ikJIc6K4