Todo o ano, quando se aproxima o mês de junho, setores do agronegócio começam a viver momentos de ansiedade e expectativa para saber como o governo vai agir em relação ao plano safra da temporada seguinte. Quais serão os valores disponibilizados, quais programas serão estimulados, com que valor e quais serão os juros para cada um. Ou seja, as regras do jogo. Entidades de diversos setores têm se mobilizado para reunir propostas e apresentarem aos representantes do Governo a fim de indicarem suas necessidades e tentar vê-las atendidas no plano safra.
Orçamento de Governo é tão igual ao de uma família. Precisa atender às necessidades básicas e tentar espichar o cobertor para cobrir diversas outras demandas que a população precisa. Mas para algumas coisas deveria existir uma regra. A diferenciação entre programas de governo e programas de Estado. O primeiro se refere a projetos que o Governo que está no comando pretende realizar. O segundo são determinadas ações, importantes para o País que, para o bem dele, deveriam ser determinados pelo setor envolvido e cumprida pelos Governos, independente da sua coloração partidária.
Assim deveria ser com o setor de armazenagem. Virar um programa de Estado. E porque isto? Porque a cada ano a safra brasileira de grãos aumenta cerca de 10%, aumentando a necessidade por locais adequados para armazená-los. Só que o aumento de unidades de armazenagem não acompanha o crescimento que a safra vem tendo. E, a julgar pelo que vem acontecendo, o Brasil sempre estará correndo atrás do prejuízo, com léguas de distância entre a produção e a armazenagem.
Segundo os últimos dados levantados pela Câmara Setorial de Armazenagem de Grãos, da Abimaq, a capacidade estática estimada de armazenagem de grãos do Brasil em 2020 era de 170 milhões de toneladas para uma produção de 257 milhões de toneladas conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), um déficit de 87 milhões de toneladas. Nesta capacidade de armazenagem, de pouco mais de 170 milhões de toneladas, estão abarcados inclusive armazéns em condições inadequadas, carecendo de reforma ou substituição.
E conforme o presidente da Câmara Setorial, Paulo Bertolini, entre a decisão de instalar uma unidade de armazenamento e ficar pronta para funcionamento pleno leva no mínimo, se tudo correr bem, oito a dez meses. Ele diz que isto significa que para zerar o déficit teriam que ser construídos 14,5 mil silos de 100 mil sacas o que levaria pelo menos 10 anos se houver um grande volume de incentivo. Isto sem haver crescimento na produção de grãos. Como há um forte movimento de cooperativas e entidades no sentido de que os estados do sul consigam produzir mais de uma safra por ano, com incentivo de plantar grãos de inverno, certamente a demanda por silos e armazéns será, em pouco tempo, muito maior, o que, numa visão de Estado, precisaria dedicar atenção e recursos para suprir a necessidade deste crescimento a fim de evitar um aumento no gargalo logístico do Pais. Tem como resolver, mas precisa pensar diferente.