Existe receita de bolo?

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Estamos diante de uma avalanche de oferta de novas tecnologias e aplicativos direcionadas ao agronegócio como um todo. Grande parte delas focadas em soluções para o dentro da porteira, buscando auxiliar o produtor rural na gestão de seu negócio. Mas como precisam ser produtos para serem usados em larga escala, não conseguem atender demandas customizadas. Porque assim como o ser humano, onde não existe um ser igual ao outro, mesmo que sejam gêmeos, é difícil aplicar a mesma solução para propriedades rurais, de forma padronizada.

O fato de surgirem tecnologias é positivo. Sempre que traz solução para problemas específicos do dia a dia da propriedade rural, é válido. Mas ao conversar com alguns especialistas percebi que não se pode trabalhar com uma receita de bolo para todos. Sempre é preciso estar aberto para adaptações que cada propriedade demanda. Não só pelas características físicas e espaciais dela em si, mas também pelo nível de preparação e conhecimento que os gestores têm.

Só que junto com esta avalanche vem uma pressão sutil em direção ao produtor para que ele se tecnifique. E as frases que mais se ouvem hoje, em palestras, entrevistas e textos é que o produtor precisa se tecnificar para poder evoluir, crescer e não correr o risco de ser retirado do mercado, ficar para traz! Mas ao mesmo tempo, também se ouve, que só quem tem condições de se tecnificar são os produtores da média classe alta e da classe alta, a ponta da pirâmide. Então, com isto, se está excluindo um número enorme de pessoas que tocam o seu negócio de produção de alimentos, no campo.

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Entre o que é dito ou desejado por muitos e a realidade da maioria dos produtores, há uma grande distância. Porque o Brasil é enorme, com realidades tão distintas de relevo, solo, pessoas e bolsos. Sim, bolsos para poder bancar a inserção de tecnologias, por mais simples que sejam. Não estou aqui defendendo que não se deve buscar por melhorar a condição de trabalho na fazenda, longe disto. O programa Mais Alimentos, por exemplo, permitiu que muitos agricultores familiares pudessem trocar o seu velho trator ou até, comprar o primeiro trator da sua vida. E isto, creiam, mudou a realidade destas famílias produtoras.

Mas também na forma como é a produção, não podemos querer impingir uma receita de bolo para todos. Ao contrário, é preciso conhecer a realidade de cada um para saber qual a solução que melhor se encaixa. Produção agrícola não pode ser vista como fábrica de peça, estragou bota fora. Tem gente por trás disto. E quando envolve gente, é preciso ver todo o lado social. Já que sempre miramos a Europa como exemplo, lembrem que lá, muitos produtores são mantidos no campo, por uma necessidade social do País, de ter quem produza alimentos. Melhor valorizar isto que encher as cidades de favelas, não lhes parece?

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