Já é conhecido por todos, os números que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulga sobre qual será a população mundial em 2050, ou seja, dentro de 38 anos. O mundo tem hoje cerca de 7 bilhões de habitantes e deve atingir entre 9 e 10 bilhões de pessoas até lá. O desafio de todos os países será ter comida para alimentar decentemente todo este montante de pessoas. O Brasil é apontado como um dos principais fornecedores de alimentos para suprir esta demanda. Existem condições de clima, solo e disponibilidade de várias tecnologias para conseguir um avanço significativo na produção de alimentos, tanto para mercado interno, quando para externo. Se bem que muito antes de exportar, deveríamos tirar o cisco do nosso olho, ou seja, fornecer comida às mais de 9 milhões de pessoas no nosso país que não têm diariamente alimentos para colocar no prato.
Todo este cenário levou a FAO a criar o Desafio 2050, com o objetivo de aumentar consideravelmente a produção de alimentos em todo o mundo de forma sustentável e eficiente, gerando segurança alimentar para toda a população mundial. O objetivo é dobrar a oferta de comida nas próximas três décadas, produzindo mais do que se produziu até hoje na história da humanidade. Comida e água para todos são sinônimo de paz mundial.
Para atingir esta meta solicitada pela FAO, é preciso que o agronegócio faça seu tema de casa com muito capricho. A Entidade mundial afirma que o País precisa dobrar a sua oferta anual de carne, que é de 10 milhões de toneladas atualmente. Como já disse na semana passada, como será possível cumprir este objetivo se cerca de 80% dos pecuaristas brasileiros não têm uma balança para pesar seu gado, na propriedade. E se 40% não sabe o número de cabeças que possuem no rebanho? Se o desfrute ainda oscila em torno de 20% – a metade do índice na Argentina, por exemplo – e a idade média de abate ainda acima de 36 meses, entre outros indicadores. Como atingir estes índices se, por exemplo, no Rio Grande do Sul, até hoje, cerca de 30% da produção de cordeiros morre antes da desmama?
Ainda hoje, na agricultura, na pós-colheita há perdas de cerca de 20% do total de grãos produzidos, sendo que 3% estão nas unidades de armazenamento, mesmo que já exista tecnologia muito barata para reduzir em pelo menos, 50% esta perda nos silos e armazéns. Sim, podemos falar do lado positivo na agricultura. As perdas na colheita reduziram significativamente e chegam a menos de 2%.
Mas todos estes números mostram que por mais avançado que o Brasil esteja em tecnologias de sementes, de máquinas agrícolas, de softwares de gestão, ainda tem uma certa caminhada para corrigir problemas básicos, que, ao que parece, são simples e de fácil aplicação. Ou comprar uma balança para pesar gado não é uma atitude simples?
Ter um manejo diferenciado que reduza a mortandade de cordeiros não é um ato simples?
Me parece que tem horas que estamos muito preocupados em fomentar tecnologias de alto nível, investir em startups mega ultra modernas, quando o básico não é feito! Chega a ser engraçado ver um produtor rural querendo implantar pastagem quando não sabe o número de cabeças que possui e nem tem balança prá pesar e medir o ganho diário que vai ter quando colocar na pastagem! Tudo isto parece o velho ditado. Colocar a carreta na frente dos bois! Acho que está na hora de repensar algumas coisas, não?