Linguagem inclusiva X Linguagem neutra: qual sua opinião?

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Recentemente está sendo muito comentado por todos os lugares e em muitas rodas de conversas a questão da linguagem inclusiva e a linguagem neutra. E isso tem dividido muito as pessoas entre as que se posicionam a favor e as contra as propostas. Mas antes de pensar em se posicionar é interessante entender o que são de fato estas duas vertentes. Então vamos lá.

A chamada linguagem não sexista ou inclusiva é a que busca comunicar sem excluir nenhum grupo, mas sem alterar o idioma conforme conhecemos. Ela propõe que as pessoas se expressem de forma que ninguém seja excluído utilizando palavras já existentes. Ela busca evitar preconceitos, discriminações e ofensas a indivíduos ou grupos, visando garantir a igualdade constitucional.

Por outro lado, há a linguagem neutra ou não binária que também tem a intensão de inclusão de todas as pessoas mas propõe a alteração do idioma e utiliza novas grafias de palavras, é o caso de amigxstodes e, etc. Os principais defensores dessas mudanças são os ativistas do movimento LGBTQUIA+ que enxergam na nossa língua mais uma ferramenta para perpetuar as desigualdades.

A proposta da linguagem inclusiva é escolher substantivos que representam instituições ao invés de indivíduos: “classe política” ao invés de “os políticos”, “população indígena” ao invés de “os índios”, “poder judiciário” ao invés de “os juízes”, etc. Reformular tempos verbais para que as frases sejam mais inclusivas e menos sexistas: “se tiver uma melhor formação, a polícia será menos racista” ao invés de “se os policiais tivessem uma formação melhor, o racismo diminuiria”, etc.

Já o uso de linguagem neutra procura utilizar os símbolos “@” ou “x” no lugar dos marcadores de gênero identificados por “o” ou “a”. Também colocar o sufixo “-e” ao invés de “-o” ou “-a”, já que marcam unicamente a dois gêneros, enquanto o “@”, “x” e o “e” abrangem maior diversidade.

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Especialistas

Alguns estudiosos defendem que embora a intensão seja boa, na prática o uso desses caracteres não é positivo.

Em primeiro lugar porque o uso desses caracteres também exclui. Pessoas com dislexia têm maior dificuldade (ou até mesmo impedimento) para ler, enquanto leitores para pessoas cegas não conseguem “entender e traduzir” o que está escrito.

Em segundo lugar, não é possível pronunciar verbalmente esses caracteres. Assim, mesmo que a pessoa sonsiga ler, ela não conseguirá transpor para a fala aquele som. O emprego desses artigos, portanto, é extremamente limitado e perde a função em contextos mais amplos, não significando uma real mudança na linguagem.

Por fim, mas não menos importante, o “X” ou “@” não geram identificação. Eles deixam as coisas indefinidas no lugar de usar os recursos já possíveis na linguagem para promover mudanças reais e provocar a reflexão das pessoas em geral ao usar a língua.

Desta forma, a linguagem neutra, atualmente, situa-se no centro de debate político e, ainda promete gerar muitas polêmicas. Envolve a demanda de pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e feminino, sendo defendida com fervor por membros da comunidade LGBTIQIA+.

Em 15 (quinze) Estados e no Distrito Federal, deputados se articulam para proibir o uso da linguagem neutra nas escolas públicas e privadas. Em Santa Catarina, um decreto do governador Carlos Moisés (PSL) já impede que seja adotada.

Na quinta-feira, (11.11), o Colégio Franco-Brasileiro, no Rio de Janeiro viralizou pois com o intuito de promover a diversidade, a escola resolveu adotar a ” linguagem neutra”, ou seja sem a distinção de gênero. Em um comunicado enviado aos pais o colégio fala sobre o “compromisso com a promoção do respeito à diversidade e da valorização das diferenças no ambiente escolar”.

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Segundo o Colégio Franco-Brasileiro, a medida é um “suporte institucional à adoção de estratégias gramaticais de neutralização de gênero em nossos espaços formais e informais de aprendizagem”.

O comunicado ressalta ainda que a ideia é a neutralização de gênero gramatical por meio da adoção de um “conjunto de operações linguísticas voltadas tanto ao enfrentamento do machismo e do sexismo no discurso quanto à inclusão de pessoas não identificadas com o sistema binário de gênero”.

A medida também tomou maiores proporções quando anunciou que vão substituir a expressão “queridos alunos” por “querides alunes”, por exemplo, para incluir múltiplas identidades.

Academia Brasileira de Letras

Os opositores da mudança alegam que precisa ser garantido aos estudantes o direito ao aprendizado da língua portuguesa conforme a norma culta e as orientações legais de ensino definidas com base nas orientações nacionais de educação e pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), consolidado pela Academia Brasileira de Letras (ABL).

A ABL, porém, que cuida da parte normativa, não tem a mesma visão, simplesmente porque a estrutura do português não suporta um gênero neutro, que existia no latim e persiste no alemão, mas desapareceu nas línguas neolatinas.

“A gramática é como um edifício, você mexe na parte externa, que é a pintura, que são as palavras, mas não na estrutura, na parte interna”, afirma o filólogo Evanildo Bechara, ocupante da cadeira 33 da ABL e coordenador da 6ª edição do Volp, que incorporou, há uma semana, 1160 (mil, cento e sessenta) novos vocábulos na língua, incluindo muitos estrangeirismos, como home office e jihad, e conceitos como necropolítica e feminicídio.

Numa língua sem gênero neutro, na qual o feminino e o masculino são sempre bem definidos, a transformação seria extremamente complexa e custosa, além de exigir flexões em vários elementos do sintagma. “Você não altera as regras de gênero, assim como não se muda as regras de formação de plural e de conjugação dos verbos”, afirma Evanildo Bechara, o maior gramático e estudioso da Língua Portuguesa no Brasil.

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Assim, entende-se que, de acordo com os gramáticos, não existe um problema na marcação de gênero, já que o que se entende como forma masculina é, na verdade, uma forma neutra, sem marcação, que coincide com a forma masculina. É o caso de “todos”, por exemplo.

Se, realmente, o gênero neutro vai se impor ou não é outra história.

Enfim, o discurso influencia e é também influenciado pela sociedade e suas questões e lutas. E, tal mudança discursiva que a princípio, causa estranheza está diretamente relacionada à luta de minorias para serem reconhecidas e terem voz ativa na sociedade.

E aí, já formou sua opinião sobre o assunto?

Fonte: Jus.com.br/ Metropoles

 

 

 

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