O lixo é um erro de design – e o que você tem a ver com isso?

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O lixo é um erro de design. Isso não tem a ver apenas com a moda, tem a ver com tudo que consumimos e descartamos, o famoso extrair muito, usar pouco e jogar fora.

Não parece nada sustentável, não é mesmo?

Se a economia circular for implementada na nossa forma de produzir e consumir, usaremos menos materiais, água e energia, poluindo menos o meio ambiente. Mas isso não resolve todo o problema. Se nos limitarmos a estratégias de minimização de impactos, continuaremos indo para a mesma direção, apenas um pouco mais devagar…Pensando nisso, deixamos aqui a dica de um livro livro muito interessante, que questiona justamente a economia linear e incentiva a mudança de paradigma, onde tudo possa ser reaproveitado e não exista desperdício, afinal, os recursos são preciosos e finitos, precisamos preservá-los e utilizá-los de forma mais inteligente, ecoeficiente e menos predatória.

O livro Cradle to Cradle – Criar e Reciclar Ilimitadamente (em inglês Cradle to Cradle – remaking the way we make things), de William McDonough e Michael Braungart, é considerado uma das obras mais influentes do pensamento ecológico mundial. Os autores propõem uma metodologia para a criação de produtos e sistemas industriais efetivos e regenerativos para o meio-ambiente, possibilitando a transição para uma economia circular. Para que essa proposta se efetive, é preciso ir além da forma como se lida hoje com questões ambientais na indústria, limitada a medidas de minimização de impactos e redução de danos através da eficiência dos processos produtivos. Apesar de sua importância na busca por soluções mais sustentáveis, esta abordagem não é suficiente, pois a produção ainda permanece extraindo recursos e gerando resíduos, dentro do mesmo paradigma, ou seja, é preciso mudar a forma como produzimos e consumimos, sem esquecer que resíduo não é lixo, ele pode ser insumo e voltar para a cadeia, regenerando o sistema.

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Moda circular

Já falamos em postagem anterior sobre a moda circular, como funciona e algumas marcas que estão aderindo a esta tendência que vem, pelo visto, cada vez mais para ficar.

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Muitas iniciativas para fazer as roupas circularem por mais tempo já estão sendo              percebidas, desde brechós  até aluguel, serviços de compartilhamento e roupatecas          por assinatura, mas há também as técnicas de reparos como o upcycling, que                  consiste, basicamente, em dar um novo propósito a materiais que seriam descartados,      com muita criatividade e qualidade igual ou até melhor que a do produto original.

O termo upcycling foi cunhado pelo ambientalista alemão Reine Pilz, em 1994. Em 2002, popularizou-se com a publicação do livro Cradle to cradle, acima citado, tendo desde então, seu conceito mais propagado, conquistando diferentes modelos de negócios, que procuram cada vez mais otimizar o ciclo de vida de seus produtos e adotar hábitos mais sustentáveis de produção. Obviamente isso também envolve o consumo, já que a relação não se estabelece sozinha e é preciso conscientizar os consumidores para existir equilíbrio entre as duas esferas.

A prática do upcycling reduz a quantidade de resíduos produzidos que passariam anos em lixões e aterros sanitários. Além disso, diminui a necessidade de exploração de matéria-prima para a geração de novos produtos. No caso do plástico, isso significa menos petróleo explorado; menos árvores derrubadas, no caso da madeira; e, no caso do metal, menos mineração. Essa atividade extrativista, aliás, já inspirou um filme famoso de 2006 chamado “Diamantes de Sangue”, revelando um cenário de exploração humana e degradação ambiental. A mineração provoca tantos impactos ambientais e sociais a ponto de Alexander Lacik, CEO da Pandora, maior fabricante de joias do mundo, anunciar que, a partir de agora, a empresa só vai utilizar diamantes artificiais, distanciando-se dos abusos de direitos humanos e do meio ambiente cometidos na mineração da pedra natural.

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Outra marca, a Patagonia, do segmento sportswear, estimula os clientes a não comprar nada além do necessário e usar a mesma peça por vários anos, inclusive oferendo serviços de reparo das peças compradas na marca, ou mesmo a devolução destas, caso não seja possível restaurar, para reciclagem, mediante um bônus na próxima aquisição. Talvez seja trocar seis por meia-dúzia, talvez seja o capitalismo consciente atuando para tentar equilibrar as coisas.

Só o tempo dirá se conseguiremos transformar essas realidades de forma positiva, não apenas minimizando os problemas. O upcycling caminha lado a lado com outros movimentos de sustentabilidade na moda, como o eco fashion e o slow fashion, todos contemplando iniciativas que ajudem a questionar esse consumo exagerado, olhando para o próprio guarda-roupa com algumas simples perguntas: Eu preciso? Já não tenho o suficiente? Não estou descartando  ao invés de usar mais vezes? E aqui voltamos à afirmação dos autores supracitados, de que o lixo é um erro de design, sim, mas errado mesmo é não se importar ou achar que não tem nada a ver com isso.

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