Setor deve, cada vez mais e de modo absolutamente enfático, tomar para si discurso e ação do desenvolvimento sustentável, caso contrário consequências mercadológicas em nível global serão inevitáveis
O agronegócio não parou. Esta foi a frase mais dita e ouvida por quem vive o dia a dia do setor nestes tempos de pandemia. E, de fato, foi o que aconteceu, com os elos de toda a cadeia produtiva do agro trabalhando de maneira plena, do campo à mesa e aos portos.
Salvo raras exceções negativas – no caso, especialmente, os segmentos de flores e frutas, o primeiro prejudicado pela interrupção dos eventos presenciais e o segundo pela diminuição da oferta de voos para exportação -, o agronegócio continuou garantindo a segurança alimentar doméstica e gerando contínuos excedentes exportáveis. Destaque para os embarques recordes de soja e o comércio exterior aquecido para as carnes, tendo a China – em ambos os casos – como principal destino. A valorização do dólar frente ao real também foi um fator extremamente positivo para os bons resultados do agro no primeiro semestre – inclusive com geração de novos empregos, de acordo com os mais recentes dados do Caged.
Agora, o que vem por aí? O radar indica alguns pontos que merecem atenção. Primeiramente, o câmbio, que foi e está sendo favorável para venda da atual safra de grãos, mas, não se enganem, certamente impactará em elevação dos custos de produção mais adiante, já que a maioria dos insumos são dolarizados.
O vaivém da guerra comercial entre Estados Unidos e China, bem como as eleições norte-americanas também alimentam incertezas no jogo do comércio agrícola internacional. Neste aspecto, ressalta-se a avaliação de lideranças do setor – inclusive da ministra Tereza Cristina – de que haverá um recrudescimento do protecionismo no pós-pandemia, o que poderá, de alguma maneira, impactar nossas agroexportações. A era pós-covid também será marcada pela exigência cada vez maior do consumidor em relação à origem e rastreabilidade do alimento.
Outro alerta proeminente envolve a questão ambiental, temática-chave para sobrevivência competitiva do agronegócio brasileiro. O setor deve, cada vez mais e de modo absolutamente enfático, tomar para si discurso e ação do desenvolvimento sustentável, caso contrário consequências mercadológicas em nível global serão inevitáveis.
Ademais, as ferramentas digitais vieram para ficar no agronegócio – seja na produção, processos, gestão e marketing – e o financiamento será cada vez mais atrelado ao crédito captado no mercado. No âmbito da infraestrutura logística, que cabe ressaltar apresentou sinais de melhora nos últimos tempos, a expectativa reside em novas rodadas de concessões, que possam atrair investimento privado. Em síntese, as oportunidades no e para o agronegócio são enormes, assim como os desafios também. Mãos à obra.
Ronaldo Luiz – jornalista com 20 anos de cobertura do agronegócio