O trigo se reinventa

em Agronegócio
19 de março de 2022
O trigo se reinventa

No segundo semestre do ano passado uma notícia repercutiu muito na imprensa especializada em agronegócio. Em um plantio experimental de trigo feito no Ceará, com apoio da Embrapa Trigo, o produtor Alexandre Sales colheu 5,3 mil kg por hectare e o cereal ficou pronto em apenas 75 dias. Para se ter uma idéia, nos estados do sul, responsáveis pela produção de 85% do trigo nacional, a produtividade média é de 2.500 kg por hectare e a colheita ocorre entre 140 e 180 dias após o plantio. No Cerrado, nesse mesmo período, a produtividade média é de 5.500 kg por hectare, mas há plantios irrigados que chegam a 8.000 kg/ha. O resultado foi tão bom que o produtor vai aumentar a área de plantio para 2 mil hectares, só no Ceará, em região de clima seco e de baixa altitude.

Tradicionalmente o trigo sempre foi plantado na região sul, durante o inverno, por necessitar de clima frio e regiões mais altas. O Brasil, por conta das pesquisas chegou a ser autossuficiente na produção de cereal, no final dos anos 80, mas puxou o freio de mão por conta dos acordos feitos pelo Mercosul, onde a Argentina passaria a ser o principal fornecedor de trigo para o Brasil. Anualmente a produção brasileira gira em torno de 6,437 milhões de toneladas, segundo a Conab.

O trabalho da pesquisa via Embrapa e outras instituições ou mesmo empresas privadas, conseguiu “desbravar” o cerrado e introduzir o trigo nesta região. Distrito Federal, Minas Gerais, Chapada Diamantina são novas fronteiras onde o trigo está se expandindo e com grande potencial de produção, principalmente em áreas com irrigação. O maior desafio é conter o “ataque” do oídio, um fungo que faz um bom estrago na cultura.

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Recentemente fiquei sabendo de uma nova área onde a pesquisa está se instalando para testar o potencial do trigo. No sul do Rio Grande do Sul, bem próximo do Uruguai pesquisadores estão implantando uma área teste para ver a possibilidade de produção do cereal. Em dando certo, abre-se um grande potencial, em uma região onde nunca houve trigo, permitindo aos produtores ter mais uma safra, que hoje está estabelecida com arroz, soja e pecuária. Entrando o trigo, os produtores estarão otimizando o uso de suas máquinas agrícolas, da sua terra e seus recursos. E, claro, abrindo novas fronteiras de produção para o cereal, diminuindo a dependência de fornecedores externos. É o trigo se reinventando.