O trigo se reinventa

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No segundo semestre do ano passado uma notícia repercutiu muito na imprensa especializada em agronegócio. Em um plantio experimental de trigo feito no Ceará, com apoio da Embrapa Trigo, o produtor Alexandre Sales colheu 5,3 mil kg por hectare e o cereal ficou pronto em apenas 75 dias. Para se ter uma idéia, nos estados do sul, responsáveis pela produção de 85% do trigo nacional, a produtividade média é de 2.500 kg por hectare e a colheita ocorre entre 140 e 180 dias após o plantio. No Cerrado, nesse mesmo período, a produtividade média é de 5.500 kg por hectare, mas há plantios irrigados que chegam a 8.000 kg/ha. O resultado foi tão bom que o produtor vai aumentar a área de plantio para 2 mil hectares, só no Ceará, em região de clima seco e de baixa altitude.

Tradicionalmente o trigo sempre foi plantado na região sul, durante o inverno, por necessitar de clima frio e regiões mais altas. O Brasil, por conta das pesquisas chegou a ser autossuficiente na produção de cereal, no final dos anos 80, mas puxou o freio de mão por conta dos acordos feitos pelo Mercosul, onde a Argentina passaria a ser o principal fornecedor de trigo para o Brasil. Anualmente a produção brasileira gira em torno de 6,437 milhões de toneladas, segundo a Conab.

O trabalho da pesquisa via Embrapa e outras instituições ou mesmo empresas privadas, conseguiu “desbravar” o cerrado e introduzir o trigo nesta região. Distrito Federal, Minas Gerais, Chapada Diamantina são novas fronteiras onde o trigo está se expandindo e com grande potencial de produção, principalmente em áreas com irrigação. O maior desafio é conter o “ataque” do oídio, um fungo que faz um bom estrago na cultura.

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Recentemente fiquei sabendo de uma nova área onde a pesquisa está se instalando para testar o potencial do trigo. No sul do Rio Grande do Sul, bem próximo do Uruguai pesquisadores estão implantando uma área teste para ver a possibilidade de produção do cereal. Em dando certo, abre-se um grande potencial, em uma região onde nunca houve trigo, permitindo aos produtores ter mais uma safra, que hoje está estabelecida com arroz, soja e pecuária. Entrando o trigo, os produtores estarão otimizando o uso de suas máquinas agrícolas, da sua terra e seus recursos. E, claro, abrindo novas fronteiras de produção para o cereal, diminuindo a dependência de fornecedores externos. É o trigo se reinventando.

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