Quando aprendemos as respostas, mudaram as perguntas!

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Foi-se o tempo em que o consumo de leite crescia 5% ao ano, ou mais, e que em se produzindo, tudo se vendia, parafraseando Pero Vaz de Caminha. Foi-se o tempo em que nosso custo de produção era sistematicamente baixo para os padrões mundiais. Foi-se o tempo em que nossos concorrentes eram os refrigerantes e, vá lá, o suco de laranja.

Agora tem o “plant-based” e, na esquina, misteriosos leites de laboratório que prometem entregar o que nós entregamos, porém a partir de células cultivadas e biorreatores. Foi-se o tempo em que a agenda de produção, quando muito, envolvia a qualidade. Hoje, a agenda ambiental e a do bem-estar passam a fazer parte da realidade dos produtores que querem continuar produzindo daqui 10 anos. Foi-se o tempo em que tecnologia era adotar uma ordenha mecânica. Hoje, tem-se a pecuária de precisão, sensores diversos, softwares de gestão, diversas opções de estratégia genética e muito mais, sem falar em plataformas financeiras e market places. Foi-se o tempo (esse já há bastante tempo) em que o preço era garantido pelo governo e a volatilidade do mercado, baixa.

O fato é, meus caros: o campo de jogo hoje está mais competitivo, e a bola corre mais rápido. O momento atual da cadeia do leite exige que busquemos soluções que envolvam todos os elos da cadeia, com maturidade. Exige que enfrentemos a agenda não com discursos populistas e inviáveis, mas à luz do cenário atual de mercado.

E um mercado que muda muito rápido. Há uns 10 anos, eu escrevi e palestrei dizendo que a cadeia do leite passaria pela maior transformação estrutural entre todas as cadeias de peso do agronegócio. Dentre os aspectos que norteariam essa transformação estavam: a incorporação de tecnologia, aumentando a produtividade; o aumento da escala de produção; a exclusão de produtores da atividade; a melhoria dos processos de gestão.

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Algumas cadeias já passaram por esse processo anos atrás. Avicultura, suinocultura, citricultura, agricultura de grãos, cotonicultura, e por aí vai. No leite, as coisas estavam ainda por acontecer. E estão acontecendo agora. Alguns fatos e percepções que norteiam essa transformação:

– Aumento da escala de produção de leite: crescem produtores acima de 400 litros/dia, mas principalmente os de mais de 2.000 litros/dia. Dados da Embrapa, publicados no MilkPoint Mercado, estimam que hoje temos mais de 5.000 fazendas com mais de 2.000 litros/dia. Em 1996, eram apenas 293;

– Forte exclusão de produtores, principalmente os de menor porte. Nos últimos 5 anos, no RS, dados da Emater mostram que metade dos produtores deixaram a atividade. Em outros estados, esse número não deve ser diferente;

– Mudanças em sistemas de produção, com o confinamento sendo cada vez mais prevalente, principalmente em função dos compost barns. Mais do que o alojamento de vacas, o confinamento carrega profundas mudanças estruturais. Para confinar, é necessário investir em conforto, nutrição, genética… isso reduz a flexibilidade de custo, garantida pela flexibilidade dos sistemas de produção explicada pelo saudoso prof. Sebastião Teixeira Gomes. Com o confinamento, não resta opção ao produtor a não ser se profissionalizar. Com tudo de bom (e de ruim) que vem atrelado. O confinamento também reduz a diferença da produção entre safra e entressafra. Daqui alguns anos, a produção de leite de safra será menor do que a de entressafra. Como no milho;

– Produzir leite (e qualquer alimento) cada vez mais vai além de simplesmente produzi-lo com a qualidade suficiente. Produzir alimentos será preservar o meio ambiente, será contribuir para a comunidade, gerar valor para os funcionários, e saber comunicar tudo isso para a sociedade;

– A profissionalização, o aumento de escala e o acesso à informação (muitas vezes informação em excesso) exigem uma nova dinâmica na relação indústria-produtor. Há quem já percebeu isso, investindo em mais transparência na relação, mas há quem trabalhe como se estivéssemos em 1990;

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É justamente este contexto que trago agora para você, produtor pensar. Ao invés de nos debruçarmos sobre as questões técnicas, já vistas em muitos eventos de qualidade, queremos propor a discussão das questões acima, começando pela relação indústria-produtor, passando por sistemas de produção, sustentabilidade e rentabilidade. Afinal, como diz o título do texto, quando finalmente aprendemos as respostas (a aplicação de tecnologia), mudaram-se as perguntas!

E lembre-se: “O mundo ocorre fora de sua fazenda ou negócio. E só esbarra em algo bom quem está em movimento”.

Marcelo Carvalho – CEO do Milkpoint

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