Em minha jornada como repórter ouvi certa vez, de um atleta, a seguinte frase: “Eu posso ser campeão nacional da minha modalidade, mas se eu não vencer os Jogos Abertos Estudantis, não ganho o respeito de todos que vivem aqui”. Confesso que fiquei impressionado com este comportamento. Hoje escutando novamente esta frase e vendo as declarações de atletas que competem nas Olimpíadas se dizendo muito felizes por poderem estar lá competindo mesmo que seus resultados não tragam medalha é difícil não fazer uma comparação entre as situações.
É difícil não traçar paralelos entre o espírito que impera nas olimpíadas e fora dela. Não sei se acontece somente no Brasil, mas temos aqui uma forte cultura de não valorizar resultados inferiores ao primeiro lugar na competição. Ser vice-campeão de futebol, de natação, de hipismo, para a nossa cultura, não tem valor, é o mesmo que nada. É uma grande frustração. E não importa qual foi o esforço e o preparo daquele competidor. Se não conseguiu o primeiro lugar, esquece!
Mas e por que no mundo das Olimpíadas isto é diferente? Por que lá, se valoriza tanto o primeiro quanto o segundo e terceiro lugar ou mesmo uma quinta ou sexta posição? O atleta e o país que conseguem posições abaixo da medalha de bronze, muitas vezes comemoram como se tivessem ganho a de ouro? Talvez porque valorizem o esforço, a dedicação, a caminhada até chegar a disputa da prova final. Como é o caso, por exemplo dos nossos atletas. Todos, com poucas exceções saíram de condições sociais menores, treinaram com isopor, com luvas emprestadas, com a estrutura que lhes foi possível e, mesmo assim, chegaram nas Olimpíadas, e, só isto, já pode lhes dar o título de vencedores.
É como o caso do time de vôlei do Quênia. Treinavam em quadra de barro, bolas esfarrapadas e, pela primeira vez, jogaram contra vários times do topo da lista. Perderam, mas deram o primeiro passo para mudarem sua trajetória e estavam lá, e isto, para elas, já foi uma vitória.
Parece que sempre fomos estimulados a pensar que somente quem é o primeiro em tudo, é o bom, o melhor. Mas vencer é um detalhe do todo. Tu podes ter feito todos os sacrifícios, dado o teu melhor, e, por um detalhe, não chegar ao topo. Isto não diminui o que tu és, ao contrário, fortalece ainda mais o valor da tua caminhada.
Acho que precisamos nos apossar mais deste espírito que as Olimpíadas trazem e começar a pensar diferente. Porque é como o levantador da Seleção Brasileira de Vôlei, o Bruno, disse, após a derrota para o Comitê Olímpico Russo, que lhes tirou da final. “Vamos buscar o bronze, porque ele agora é o nosso ouro”. Pense nisto.