Em cada pessoa o coronavírus se comporta de um jeito e ninguém quer vacilar para saber como o corpo reagirá, certo? Fato é que muitas pessoas enfrentam sequelas nada agradáveis após “se curarem” da Covid-19. Várias dessas sequelas exigem acompanhamento médico por um período de tempo que ninguém sabe precisar.
Os médicos chamam essa fase de “Covid longa”, “Covid persistente”, “Covid-19 pós-aguda” ou a “síndrome pós-covid”.
Os problemas de saúde dessa fase se manifestam a partir da quarta semana após a infecção. Se vão durar semanas ou meses, só o tempo dirá.
Na China, os pesquisadores estudaram isso bem afundo. Eles convocaram 1.733 pessoas que tiveram a doença e descobriram o seguinte:
- A maioria (76%) relatou pelo menos um sintoma nesse período posterior à fase aguda da covid-19.
- O problemas mais relatados foram cansaço e fraqueza muscular (63%);
- 26% das pessoas tiveram dificuldades para dormir;
- 23 % tiveram ansiedade e depressão.
E não parou aí, não, viu? Ainda foram relatadas sequelas no pulmão e no coração.
Um estudo publicado na quinta-feira, 22, na revista científica Nature, uma das mais importantes do mundo, os sobreviventes da Covid-19 têm um risco 59% maior de morrer dentro de seis meses após se curarem do tipo mais intenso da doença.
A constatação vem de uma das maiores investigações já feitas sobre as sequelas da “Covid longa”, e revela que muitas pessoas enfrentaram na cura da doença apenas o primeiro dos obstáculos.
Para cravar esse número tão revelador, os pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, se valeram de um banco de dados do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados, incluindo dados de mais de 87 mil pacientes diagnosticados com a Covid-19 e 5 milhões de indivíduos saudáveis – que serviram como grupo controle.
Munidos de tais informações, foram capazes de identificar qual porcentagem dos recuperados se manteve com sequelas no sistema respiratório e sistema nervoso, além de distúrbios neurocognitivos, distúrbios de saúde mental, distúrbios metabólicos, distúrbios cardiovasculares e gastrointestinais.
Na lista dos que tiveram a versão mais intensa de novas doenças existem aqueles que até mesmo não conseguiram retornar às atividades normais, alterando a natureza física e emocional desses pacientes.
Os sintomas mais comuns da síndrome pós-covid não são leves, entre eles: derrame cerebral, diabetes e dificuldades respiratórias a até danos ao coração, fígado e rins, depressão e perda de memória.
São observados também o intenso uso de analgésicos, indispensáveis para contornar os sintomas mais fortes. Entra na lista a adoção de medicamentos como opióides, antidepressivos, ansiolíticos, anti-hipertensivos e hipoglicemiantes orais.
E dá para ficar zero bala após a Covid?
Então, aquelas pessoas que foram mais afetadas pela Covid-19, que precisaram ficar internadas, terão que fazer um acompanhamento mais sério!
Alguns médicos vão pedir exames de rotina, como os de sangue, por exemplo. A ideia é checar se está tudo bem com os indicadores do rim, fígado e se a coagulação está normal, por exemplo.
Mas não vai achando que você que teve sintomas leves estará livre da necessidade de acompanhamento médico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já disse em uma publicação que independentemente da gravidade, qualquer pessoa que teve covid-19 pode apresentar sintomas posteriores que necessitam de acompanhamento.
E alguns desses sintomas podem não ser tão aparentes, como alterações cognitivas (problemas de memória, por exemplo) que também vão exigir atenção.
A OMS ainda lembra das consequências graves que exigem atendimento emergencial, como embolia pulmonar, problemas do coração, acidente vascular cerebral (AVC) e convulsões.
Esses são apenas alguns dos sintomas persistentes. Isso porque não falamos da perda de olfato e paladar que é bem comum e pode demorar meses para voltar à normalidade.
Por falar nesse sintoma bem desagradável, sabia que existem exercícios para recuperar a capacidade de sentir cheiros? É como se fosse uma fisioterapia.
A perda de olfato, um dos principais sintomas causados pela Covid-19, pode ser permanente, é o que tem observado um grupo de pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-USP). Um estudo comandado por eles, que acompanha mais de 650 pacientes infectados pelo novo coronavírus, mostrou que cerca de 5% dos que tiveram perda de olfato não recuperaram a capacidade de sentir os cheiros mesmo depois de dois meses e meio do início desse sintoma.
Os dados preliminares do estudo, que ainda está em andamento, indicam que o dano pode afetar, principalmente, os pacientes que não procuram atendimento médico logo no início da doença.
O que pode explicar a perda de olfato, de acordo com médicos, é a inflamação das passagens nasais e infecção nas células nervosas nasais responsáveis pela percepção dos cheiros.
Ainda não existem respostas totalmente prontas sobre esta modalidade da doença, já que muitas pesquisas ainda estão sendo realizadas.
As pesquisas mais recentes já cravam que a covid-19 é uma doença que afeta muito além do pulmão, apesar de ele ser o órgão mais debilitado e que leva o paciente para a condição mais extrema de sobrevivência.