O Brasil aprovou o plantio e a venda de uma variante de trigo geneticamente modificada para resistir à seca, conhecida como HB4, no início de março. A variedade foi desenvolvida pela empresa argentina de biotecnologia Bioceres. É uma semente de trigo geneticamente modificada com o gene HaHB4, proveniente da planta de girassol e resistente à seca.
O Brasil que já importa a farinha com o trigo transgênico para o consumo humano desde novembro de 2021, agora possibilitará que os agricultores brasileiros vão poder plantar a semente no país. Com isso, o Brasil se tornou a segunda nação, depois da Argentina, a aprovar uma variedade para este fim. No país vizinho, esse trigo também pode ser consumido.
Aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência, responsável por analisar a segurança do alimento para a saúde humana e meio ambiente. A variedade também é resistente ao agrotóxico glufosinato de amônio, herbicida aprovado no Brasil que mata plantas daninhas, quando é usado no início do plantio.
Liberado para o plantio em solo brasileiro a HB4 deve demorar para chegar no campo. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – estatal que faz pesquisas agrícolas –, está testando se as novas sementes da Argentina têm tolerância à seca no ambiente brasileiro.
O trigo transgênico é seguro?
A CTNBio afirma que o trigo transgênico é “seguro ao meio ambiente, à saúde humana e animal”. Isso com base em “dados da literatura científica” e informações de especialistas, apresentados em uma audiência pública que a Comissão fez.
“Sob o ponto de vista ambiental e da saúde humana e animal, a gente considerou que ele [o trigo transgênico] é similar ao trigo convencional”, disse o presidente da CTNBio, Paulo Barroso, em entrevista à Agência Brasil, no dia 25 de março.
Contudo, a advogada da organização Terra de Direitos e integrante da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) Naiara Bittencourt diz que não há estudos suficientes sobre a segurança do HB4 no Brasil.
“Os estudos que foram fornecidos pela empresa [Bioceres] foram realizados na Argentina e não em território brasileiro. […] Os estudos que são realizados na Argentina não têm a mesma base necessária que é exigida pelo protocolo de Cartagena de Biossegurança, do qual o Brasil é signatário”, afirma.
Segundo Naiara, o protocolo de Cartagena exige, por exemplo, uma análise dos impactos socioeconômicos do cultivo do trigo transgênico, e uma avaliação de risco para a saúde humana de todas as novas sequências de DNA inseridas no genoma do trigo.
Produtores são a favor da liberação
Associações de produtores ligadas à cadeia do trigo estão a favor da liberação do plantio da semente transgênica. “Passados mais de um ano da aprovação da importação de farinha de TGM (HB4), não ocorreram manifestações contrárias, e pesquisas realizadas no período deram sinais de que os consumidores brasileiros não se opunham ao uso de transgênicos”, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), em nota.
Expectativa dos agricultores
A Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) afirma ainda que a liberação do HB4 irá permitir o aumento da produção do trigo no Brasil, que já vem expandindo nos últimos anos.
De 2017 a 2022, houve uma alta de 76% na colheita do cereal, mostram dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os principais produtores nacionais são os estados do Rio Grande do Sul e Paraná.
Apesar deste avanço, o Brasil ainda depende da importação para abastecer o mercado interno. Para este ano, por exemplo, a Conab prevê que o país deverá produzir 10,5 milhões de toneladas de trigo, mas que precisará comprar mais 5,8 milhões de toneladas para atender o consumo interno.
O Brasil importa 85% do cereal da Argentina, sendo que, até março, apenas o trigo convencional era comprado. A área cultivada de trigo HB4 foi de mais de 50 mil hectares na Argentina, em 2022, mas ainda não atingiu escala comercial.
Vai ter trigo transgênico na próxima safra?
A expectativa para a próxima safra é de que, dificilmente, terá o plantio de trigo transgênico, já que as decisões ocorreram após as definições de compras de sementes, segundo Élcio Bento, que é analista da Safras & Mercado.
Além disso, a Embrapa está fazendo avaliações em campo para saber se as novas sementes argentinas possuem tolerância à seca em território brasileiro. O chefe da Embrapa Trigo estimou que vai levar entre três e cinco anos para a nova semente produzir resultados no campo brasileiro.