O surgimento da pandemia no Brasil provocou a necessidade de paralisar a circulação de pessoas, fechamento de negócios, praias, escolas e, de uma hora para outra, colocou milhares de pessoas encerradas dentro das suas casas. Com a economia do País reduzindo seu ritmo, foi necessário que, a exemplo de outros países, se tomassem medidas urgentes para assistir financeiramente às pessoas que ficaram sem renda. Por iniciativa do Congresso, recursos adicionais foram disponibilizados para atender a esta demanda. E o Governo Federal, precisou articular formas e regras para distribuir estes valores. Uma destas regras? Ter CPF.
46 milhões de brasileiros não tinham CPF ativo ou mesmo cadastrado. Ou seja, cerca de 22% da população estava invisível até aquele momento. E destes, 3 milhões (IBGE) continuam invisíveis porque não têm nem ao menos uma certidão de nascimento. Pasmem! Uma multidão equivalente ao estado de São Paulo ou à Espanha, não existiam em qualquer registro governamental. Portanto, não conseguiam ter acesso a um universo de serviços ou de benefícios do Governo. E quando foi que o Brasil esqueceu destes seus habitantes, destes seres humanos? Em que momento houve a ruptura dos vagões destes passageiros com o trem Brasil? Que cegueira atacou os nossos olhos que deixamos de ver estas pessoas?
Como está dito em vários artigos e reportagens, de repente nos demos conta do abismo social que existe no País, onde milhões de pessoas além de não existirem, não têm acesso à internet para poderem cumprir com os compromissos de estudos durante o ano letivo. Onde os invisíveis que sobreviviam de biscates, venda de balas nos pontos de ônibus, sucos e outros produtos nas praias, ficaram sem alternativas para se manter e saíram das sombras invisíveis das cidades.
E o que fazer com este estado de São Paulo inteiro, distribuído por este imenso território quando e se voltar a alguma normalidade? Será que é possível ainda ter algum olhar para eles e reconduzi-los a um patamar digno de existência? Será que existe espaço no campo, dentro das porteiras para empregar estas pessoas? Ah, mas e todas as outras pessoas que ficaram desempregadas pela pandemia? É também um outro olhar que se precisa ter. E, novamente, aproveitar os movimentos que existem nas cidades, de ajuda a estas pessoas, para se engajar, questionar autoridades em busca de mudanças. Porque senão, os invisíveis e muitos outros vão voltar para as suas sombras.