Fabricante criou marca BioSafe com intuito de oferecer saídas para setor de transportes e viu sistema se expandir para segmento hoteleiro e esportivo
A unidade da Marcopolo na China acendeu o alerta, em janeiro deste ano: o novo coronavírus, que estava explodindo em Wuhan, chegaria em breve ao Brasil. Sem duvidar da previsão, pois já havia casos em outros países que certificavam o potencial pandêmico da doença, a fabricante gaúcha montou um plano de contingência em Bento Gonçalves e determinou que outra equipe também planejasse o momento pós-crise, mesmo sem saber o que vinha pela frente. Em seguida, por meio da Next, célula de inovação da empresa montada em 2019, desafiou startups a apresentar projetos eficazes contra a pandemia. Poucos meses depois, nascia a BioSafe, um kit de serviços contra o vírus que ressignificou o setor de transportes e ganhou adeptos no segmento hoteleiro e esportivo.
Um dos primeiros produtos a ser lançado ao mercado foi o sistema Fog in Place (FIP), adquirido de uma startup e adaptado ao ambiente interno dos ônibus da Marcopolo. Utilizando a nanotecnologia, a máquina libera uma névoa seca de micropartículas, eliminando em 15 minutos vírus e bactérias presentes no ar ou superfícies. Em seguida, a empresa implantou a desinfecção de banheiros por luz UV-C, que também é usada em ar-condicionado. O novo layout dos veículos foi o passo seguinte. A empresa reconfigurou as posições dos assentos (apenas um em cada lado), inseriu uma cortina para separar os dois corredores ao meio e instalou proteção para motoristas e cobradores.
De acordo com o diretor comercial da Marcopolo, Rodrigo Pikussa, a agilidade na busca por soluções e na execução dos projetos foi um fator determinante no momento que antecedeu a crise no Brasil. Ele avalia que a empresa decidiu não esperar e acertou em cheio. “Nos questionamos se deveríamos aguardar naquele primeiro momento, mas decidimos agir rapidamente para buscar as soluções necessárias. Não fazer nada seria seguir uma tendência de mercado, e a Marcopolo sempre busca se diferenciar”, afirma Pikussa.
Os produtos projetados inicialmente para os ônibus já foram comercializados para outros segmentos. Segundo o diretor comercial da Marcopolo, hotéis da Serra gaúcha e da Bahia já adquiriram o FIP Spaces. O sistema também foi utilizado para o reinício do Campeonato Gaúcho no vestiário das equipes durante o Gre-Nal, realizado no Estádio Centenário, e o Ca-Ju, no Alfredo Jaconi.
Parte do sucesso da Marcopolo BioSafe é justificada por ações de marketing em meios de comunicação, com divulgação em rádio, televisão, jornais e redes sociais. “Criamos um plano muito bem estruturado de comunicação para divulgar estes produtos. A divulgação começou em meados de abril e um mês depois já tínhamos um impacto significativo em mídia espontânea gerada. Existe um grande interesse das pessoas, uma grande curiosidade a respeito dos sistemas”, relata Pikussa.
A Marcopolo também criou o Safe Check-In, que é um totem para triagem de pessoas nas rodoviárias. Os passageiros são submetidos à uma câmara que mede temperatura, verifica se a pessoa está usando máscara, oferece um dispensador automático de álcool gel, faz o check-in e a identificação do passageiro por QR code. “Com ou sem coronavírus, o público que emerge da crise é um público mais consciente, observador dos aspectos em biossegurança. O cliente será mais exigente e o mercado se tornará ainda mais competitivo. Quem tiver diferenciais para ofertar, como sempre, vai se destacar”, analisa Pikussa.
Na avaliação do diretor comercial da Marcopolo, a tendência é que a biossegurança seja pauta de diversos segmentos de mercado por um bom tempo. “A probabilidade de tudo voltar ao normal, como era antes, é muito baixa. Não será só o coronavírus a preocupar, mas outros vírus e bactérias transmitidas da mesma forma. Entendemos que algumas mudanças vieram para ficar, pois isso não vai passar tão cedo na memória das pessoas”, afirma.
Texto Correio do Povo