Em final de maio o Brasil obteve o reconhecimento internacional de novas zonas livres de febre aftosa sem vacinação, em seis estados. A área abrange o Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e parte do Amazonas e do Mato Grosso. O reconhecimento foi conferido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Para a ministra da Agricultura, Teresa Cristina, o reconhecimento da OIE significa confirmar o elevado padrão sanitário da nossa pecuária e “abre diversas possibilidades para que o Ministério da Agricultura trabalhe pelo alcance de novos mercados para a carne bovina e suína, assim como pela ampliação dos tipos de produtos a serem exportados aos mercados que já temos acesso”, assinalou ela.
A celebração também tem um bom motivo. Segundo estimativas do ministério, já neste ano, 2021, haverá uma economia de cerca de R$ 90 milhões por conta de não precisar comprar 60 milhões de doses da vacina. Por outro lado as exportações de produtos cárneos devem aumentar significativamente, principalmente suinos. A certificação foi conferida porque faz 20 anos que não há circulação do vírus nestas regiões citadas.
No entanto, nem tudo foram sorrisos para esta decisão. Produtores rurais ouvidos após esta determinação mostraram-se bastante preocupados, pois, segundo eles, os estados, na sua grande maioria, não cumpriram com a totalidade das demandas em termos de vigilância sanitária, apesar das Secretarias de Agricultura e do MAPA afirmarem o contrário. Um produtor rural de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, município de grande extensão de terra e que faz fronteira com a Argentina, disse que a Inspetoria Veterinária de lá, tem pouca estrutura material e de pessoal para atender toda a região, prejudicando a fiscalização sanitária. Ele lembrou que o Uruguai não retirou a vacina e continua acessando importantes mercados externos com sua carne. Finalizou dizendo que desconfiava que esta correria toda para buscar a certificação era pressão da indústria de carne suína que perde concorrência de mercado com Santa Catarina, estado que há 11 anos tem esta certificação e exporta esta carne, para importantes países consumidores.
De fato, se formos olhar as grandes extensões territoriais que existem no País e nos estados é difícil crer que se consiga ter uma vigilância sanitária de primeira linha. Ou um programa, como Santa Catarina conseguiu implementar. Até porque o Brasil tem muitas fronteiras secas ao longo das suas divisas o que facilita o trânsito de animais vetores da doença. Por isto, é importante olhar com calma e analisar qual estrutura existe em cada estado. Porque um único caso reportado, coloca todo o trabalho de anos, por água abaixo. Como diziam os antigos, “paciência e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém!” e o “olho nunca pode ser maior que a barriga!”.