Toda dor é real

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Você certamente já sentiu dor alguma vez na vida, estou certa? Ninguém realmente quer sentir dor. Uma vez que você a tem, quer livrar-se dela. Isto é compreensível, posto que a dor é uma sensação desagradável.

Mas, esse incômodo que a dor nos causa é o grande motivo que a torna tão efetiva, adaptativa, fisiológica, ou seja, parte essencial da vida. A dor protege-lhe, alerta-lhe do perigo, frequentemente antes mesmo que você se machuque ou que sofra uma grande lesão. Ela faz com que você se mova de maneira diferente, pense diferente e comporte-se de maneira diferente, o que também a torna vital para a cura.

Posto isso, é normal e sensato doer. Todas as experiências de dor são normais e são uma resposta excelente, embora desagradável, para o quê o seu cérebro julga ser uma situação ameaçadora. Mesmo que existam problemas em suas articulações, músculos, ligamentos, tendões, vísceras, nervos, sistema imunológico ou em qualquer outro local do seu corpo, não haverá dor a não ser que o seu cérebro pense que você está em perigo.

Da mesma forma, mesmo que não haja problema algum, ainda assim haverá dor se o seu cérebro acreditar que você está em perigo. É tão simples e tão complicado ao mesmo tempo.

Estou aqui para explicar isso. Seja qual for o tipo de dor que você já sentiu, ou sente; aquela dor aguda de quando batemos o dedo do pé em algum móvel, a dor de um corte, a dor pós cirúrgica ou a que chamamos de dor crônica; aquela que convive com você todos os dias, ou a maioria dos dias, há mais de três meses. Independentemente do tipo de dor que você já tenha experimentado ou está experenciando nesse exato momento, saiba que você não está sozinho(a).

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Toda dor é real; independentemente da sua manifestação temporal. Seja dor aguda, seja dor crônica, com destaque, principalmente, à dor crônica (aquela que dura ou persiste por mais de três meses), deve ser levada à sério. Muitas vezes, pessoas portadoras de dores crônicas são descrentes de um possível prognóstico positivo do seu caso, além de serem estigmatizadas por não melhorarem ou julgadas por conta de não conseguirem lidar com a situação.

Embora a dor, geralmente cumpra um papel adaptativo, ela pode ter efeitos adversos na função e no bem-estar social e psicológico. Posto isso, viver com dor crônica pode significar viver com problemas de saúde mental, autoestima e rompimento de relacionamentos. Os custos com a dor para a sociedade são enormes, por exemplo, a dor de coluna lombar é a principal causa de anos perdidos devido a incapacidade, além disso, a dor crônica gera enormes custos ao sistema de saúde, perda de produtividade, redução da qualidade de vida e cuidados informais.

Tratando-se de dor crônica, é preciso desmascarar um equívoco comum e prevalente, na qual toda dor crônica ainda é entendida como um indicador preciso de lesão no local aonde dói. Ao contrário disso, a dor é sempre uma experiência pessoal, influenciada em graus variáveis por fatores biológicos, psicológicos e sociais.

Isso é, sentir dor não é a mesma coisa que ter uma lesão ou alteração tecidual identificável no local onde dói. Assim sendo, a dor não é um marcador preciso do estado do tecido onde dói. Entretanto, independentemente disso, a dor é real; e o relato de uma pessoa sobre uma experiência de dor deve ser respeitado.

Estudos modernos sobre a dor crônica, orientam entendermos essa condição como um produto da sinalização neural anormal com dimensões biopsicossociais que requerem uma abordagem multimodal e multidimensional para o tratamento. Além disso, não se pode deixar de ponderar que diversos profissionais e pacientes não compreendem as suas opções de tratamento; limitando-se ao uso de medicamentos, abordagens invasivas, passivas ou repouso. Uma conduta antagônica aos estudos contemporâneos da dor.

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A boa notícia é que a dor pode ser facilmente entendida por qualquer pessoa e a compreensão da neurofisiologia da dor muda o modo como as pessoas pensam sobre ela, o que reduz o valor da sua ameaça e, consequentemente, ajuda no seu tratamento.

Apresento-lhes um breve questionário sobre a neurofisiologia da dor. Esse questionário pode ser respondido por leigos ou profissionais da área, portanto, não se assuste com os vocábulos empregues em alguns tópicos, pois esse teste visa nivelar o conhecimento e o entendimento sobre a dor entre pesquisadores, clínicos e sociedade. As opções de resposta são: VERDADEIRO ou FALSO. As respostas estão no final da matéria.

1 Quando parte do seu corpo está lesionado, receptores especiais da dor levam a mensagem da dor para seu cérebro.
2 Dor somente ocorre quando você está lesionado ou está correndo risco de se lesionar.
3 Nervos especiais na sua medula espinhal levam mensagens de perigo para o seu cérebro.
4 Dor ocorre sempre que você está lesionado.
5 O cérebro decide quando você vai sentir dor.
6 Os nervos se adaptam aumentando seu nível de excitabilidade em repouso.
7 Dor crônica significa que uma lesão não foi curada corretamente.
8 Piores lesões resultam sempre em pior dor.
9 Neurônios descendentes são sempre inibitórios.
10 Quando você se lesiona, o ambiente em que você está não afetará a quantidade de dor que você sente, desde que a lesão seja exatamente a mesma.
11 É possível sentir dor e não saber disso.
12 Quando você está lesionado, receptores especiais levam a mensagem de perigo para a sua medula espinhal.
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Fisioterapeuta, graduada pela Universidade Federal de São Carlos. Pós-graduanda em Osteopatia pela Escuela de Osteopatia de Madrid - Brasil e pós-graduanda em Dor pelo instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein.

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