A Falta de Educação no Campo

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Nesta semana foi apresentada pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio, ABMR&A, o resultado da 8ª Pesquisa Hábitos do Produtor Rural. Conforme o presidente da entidade, Jorge Espanha, “trata-se de uma completa pesquisa do perfil, hábitos de compra, nível de escolaridade, envolvimento de tecnologia e preferências de mídia dos produtores rurais, que mostra, com extrema confiabilidade, como o produtor rural se conecta, por qual meio e quando, por tipo de atividade (pecuária ou agricultura), estado e preferências de comunicação, entre outros temas”, disse ele. Foram 271 questões respondidas por mais de 3 mil produtores rurais de todas as regiões do país.

Uma das conclusões que pode se retirar da pesquisa é que o setor produtivo não parou e o agronegócio segue colocando alimentos na mesa, além de manter o ritmo de produção, distribuição e exportação. Porém, o agro é feito por pessoas e a Covid também atingiu o campo. O impacto foi menor, mas teve seus efeitos.

Há muitos outros dados que revelam, por exemplo, os veículos de comunicação que têm a preferência do produtor, a forma de fazer negócio, o quanto está conectado à internet, entre outros assuntos. Mas há duas informações que chamaram a atenção e pareceram bastante reveladoras. Quando mostraram o nível de escolaridade dos produtores rurais foi visto que 51% estão entre os que possuem somente o ensino básico incompleto (24%) a Ensino

Fundamental incompleto (12%). 15% completaram o básico. Depois vem o Fundamental Completo, com 32% e curso superior, somente 10%.

A colocação em porcentuais não nos dá a real dimensão do número de pessoas que estão nesta faixa dos 51%. Se for valido o dado do IBGE de que ao todo são cerca de 5 milhões de produtores rurais no Brasil, 2,55 milhões estão com baixo nível de instrução escolar. E na outra ponta, teremos 500 mil produtores que concluíram o ensino superior. E nem estamos falando na qualidade do ensino!

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Poderia ser argumentado que grande parte destes 51% são de regiões pobres e pessoas de mais idade. Pode. Mas quando vejo em grupos de whatsapp de produtores a forma como muitos se expressam, ou quando os entrevisto para alguma reportagem e noto que são jovens, na faixa de 40 anos, fico me perguntado o que aconteceu com estas pessoas que não tiveram condições de aprendizado para evoluírem como cidadãos ou mesmo poderem sonhar em ter uma graduação como técnico agrícola ou até universitária?

Em realidade, esta disparidade, segundo me disse um colega jornalista, é a mesma que existe nos centros urbanos, onde poucos alcançam o “olimpo” educacional! Que triste verdade ele me faz lembrar! Claro, podemos olhar a situação pelo viés positivo, que mostra a oportunidade existente para instituições como o Senar, promover a melhoria educacional no campo, mas eles não conseguem estar em todas as partes! E aí, vem a questão, o que é feito das escolas rurais?

Como atender a este público tão carente de conhecimento básico?

E qual é a consequência desta situação? Ela pode estar sendo revelada num segundo slide. Segundo a pesquisa, apenas 9% dos entrevistados usam algum tipo de software de gestão da propriedade. 35%, planilhas de excell, 83% o caderno ou caderneta de papel e 4% não fazem registro formal. Se há um déficit de escolaridade, vai refletir no uso de “tecnologias” mais avançadas para a gestão do negócio rural. E também, na implantação e no saber como usar os instrumentos da agricultura 4.0 que tanto se fala e dizem que os produtores rurais já estão inseridos e usando como se fossem “nativos” do mundo digital.

E agora, dá para perceber porque até hoje, nos tratores, mesmo os mais modernos, não retiraram a figura da lebre e da tartaruga do seus painéis! Faz lembrar um antigo ministro da Economia, do Brasil, Gonzaga Belluzzo, que chamou o país de Belíndia. Mistura da Bélgica com a Índia. Retrato das desigualdades em vários setores.

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Em verdade, olhando para estes dados, é de se perguntar, como o Brasil quer ser um País, com P maiúsculo, forte, crescido, desenvolvido, se grande parte da sua população está longe de ter pelo menos um bom nível médio escolar! Do que adianta trazer tecnologias “futurísticas” se somente ume pequena parcela consegue implantar e entender como e para que funciona? Penso que isto é muito impressionante. Chocante até e merece um olhar mais atento das autoridades ligadas a este assunto.

A Falta de Educação no Campo

 

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