De memes a promessa de hiperinflação, todo mundo deu um pitaco sobre a criação da nova cédula
No último dia 29 de julho, o Banco Central pegou todo mundo de surpresa anunciando uma nova nota para a família do real: a de R$200. A última vez que uma cédula nova passou a circular foi a de R$20, em 2002.
Criar uma nota com um valor tão alto chamou a atenção de várias pessoas, principalmente daquelas que viveram o período de hiperinflação no Brasil durante os anos 1980 e o começo dos anos 1990.
Para se ter uma ideia, a cédula de menor valor do cruzeiro real – a moeda antecessora do nosso real – era de mil cruzeiros reais e a de maior valor, 50 mil.
Afinal de contas, a nota de 200 reais é digna da preocupação de tantos na Internet?
Qual é a justificativa para a criação da nova nota?
Segundo o Banco Central (BC), a decisão de criar a nota de R$200 “tem por objetivo atender ao aumento da demanda por dinheiro em espécie que se verificou durante a pandemia de Covid-19”. Trata-se de uma ação preventiva, de acordo om Carolina de Assis Barros, diretora de Administração do BC.
Atualmente, circulam em forma de moedas e cédulas um total de R$277 bilhões. Uma parcela considerável desse montante está guardada na casa das pessoas, fenômeno conhecido como entesouramento.
Mesmo que o Governo Federal tenha oferecido o auxílio emergencial em dinheiro vivo, entre várias razões, para reaquecer a economia, as moedas e cédulas não voltaram para o comércio na velocidade esperada.
O BC argumenta que o entesouramento não é exclusividade da economia brasileira, principalmente durante a pandemia, quando muita gente prefere sacar dinheiro em espécie para fazer reservas em casa.
Outro argumento para a criação é o troco. No entanto, há um lado positivo e negativo: o positivo é que não será mais necessário carregar tantas notas – um saque de auxílio emergencial deixa de ser representado por seis cédulas de R$100 e passa para apenas três cédulas de R$200. O lado negativo é que o comércio terá que se virar para encontrar troco para uma nota tão alta.
Em uma crítica a decisão, o jornalista Carlos Alberto Sardenberg, da rádio CBN, argumenta que a facilitação da logística também contempla os corruptos, já que agora dá para “colocar o dobro de dinheiro na mesma maleta”.
Em um mundo cada vez mais digital, tinha necessidade de criar essa nota?
O Banco Central tem recebido várias críticas pela criação da nova cédula. Em resposta, a instituição aponta que o dinheiro em espécie é usado em 60% dos pagamentos no Brasil, segundo pesquisa realizada pelo próprio BC em 2018.
Para pagar o auxílio emergencial, a Caixa Econômica Federal criou cerca de 40 milhões de contas bancárias digitais, o Caixa Tem, o que se transformou na primeira conta de banco de milhões de brasileiros.
A nova nota é por causa da inflação?
Segundo economistas e o BC, a preocupação com a inflação ou a hiperinflação não faz sentido. Em junho de 2020, o IPCA era de 2,13%, muito diferente do IPCA de junho de 1994 (ano da criação do real) por exemplo, que foi de 47,43%.
Há quem diga que o real está desvalorizado, mas isso já acontece há muitos anos. O salário mínimo em julho de 1994 era de R$64,79. Uma nota de R$100 pagava quase dois salários de alguém. Hoje, uma nota de R$100 é pouco mais de 10% de um salário mínimo.
No entanto, isso está acontecendo ao longo de 25 anos. Na época da hiperinflação, essa corrosão da moeda acontecia em meses, o que originava “monstros” como a nota de 100 mil cruzeiros.
A nota de R$200 também facilitaria a troca do real por uma moeda estrangeira. A nova cédula nasce valendo menos de 40 dólares. Por vários motivos, o real é a segunda moeda mais desvalorizada do mundo em relação ao dólar durante a pandemia, perdendo apenas para o bolívar venezuelano.
Lobo-guará
Apesar dos memes, o animal que será representado na nota de 200 reais será o lobo-guará. Ainda não foi divulgado a arte final por questões de segurança.
No entanto, não é a primeira vez que o bicho aparece em uma moeda brasileira. Na curta vida do cruzeiro real (1993-1994), a moeda de CR$100 tinha o lobo-guará cunhado em seu verso.
E então? Está convencido(a) de que a nota de R$200 é mais para prevenir do que para remediar? Conte nos comentários o que achou da novidade.
