Das coisas que o dinheiro não compra

em Lívia Just
7 de julho de 2020
Das coisas que o dinheiro não compra

Estamos por um bom tempo falando sobre consumo, inteligência financeira, educação financeira, personalidades na área do investimento, barato, caro, experiências positivas, consumidor moderno, consumidor consciente, nascidos para comprar, mil e outras nuances de um único tema: dinheiro. Mas, por esses dias tenho andado pensativa. Dizem que depois de certa idade a pessoa começa a se interessar por assuntos aleatórios, coisas da pseudo velhice.  Misericórdia! Tenho andado assim.

Vou ao supermercado e, quase sem querer, me pego ouvindo a conversa de quem está ao meu redor. Às vezes na fila do caixa outras vezes no corredor. O pior de tudo é que ainda me vejo dando palpite, mentalmente, é claro. E, dentre várias conversas que tenho participado como ouvinte, uma em especifico me chamou a atenção. Vou compartilhar.

Eis que estou na faixa na amarela, com minha máscara rosa de croché e minhas bugingangas na mão esperando a fila andar quando percebo a minha frente duas senhoras. Com um pouco mais, pouco menos de 70 anos, pareciam irmãs. Vi a cena e “de cara” já simpatizei com a dupla. A de cabelinho branco com roxo (essa moda é engraçada, né?) e vestido colorido filosofava sobre a vida. Dizia eloquente: “- Quando tudo isso passar vou é viajar. Você viu, Nair, o que aconteceu com o cicrano?” Antes mesmo que a outra tivesse tempo de responder ela seguiu falando pelos cotovelos: “- Morreu e não levou nada. Tanto “agarradio” naquelas coisas dele e agora os filhos vão “torrar” tudo.”

Nair, a irmã, só balançava a cabeça. Não sei se aprovava a fala ou se era apenas um gesto automático de quem já está acostumada a viver o monólogo. Fato é: a figurinha eloquente teceu o rosário. Falou do genro do falecido, dos filhos e do neto que, segundo ela, ele deixara muito mal acostumado. Falou dos bens que seriam dilapidados e de quanto o homem havia sofrido para amealhar seu patrimônio.

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A fila andou, me dirigi ao caixa e não pude ouvir o fim da conversa. Mas, uma coisa é certa: a senhorinha esqueceu de comentar se o falecido era ou não feliz.

Medimos a vida do outro pela nossa régua. Fazemos conjecturas com o dinheiro alheio e nos esquecemos que nada melhor que o próprio dono para dar-lhe a destinação devida. Warren Bufett, um dos homens mais ricos do mundo, vive na casa que comprou nos anos 50 e dirige um carro modesto. Nem de longe se assemelha a um velho avarento. É um dos maiores acionistas da Apple e usa um celular Flip, em vez de um smartphone. Aos olhos de quem perto dele quase nada possui, sua fortuna deveria ser bem mais aproveitada. Mas, cá entre nós, o oráculo de Omaha, parece ser bem feliz.

Lembranças a rainha, que continua linda na libra esterlina,

Das coisas que o dinheiro não compra

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