Das coisas que o dinheiro não compra

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Estamos por um bom tempo falando sobre consumo, inteligência financeira, educação financeira, personalidades na área do investimento, barato, caro, experiências positivas, consumidor moderno, consumidor consciente, nascidos para comprar, mil e outras nuances de um único tema: dinheiro. Mas, por esses dias tenho andado pensativa. Dizem que depois de certa idade a pessoa começa a se interessar por assuntos aleatórios, coisas da pseudo velhice.  Misericórdia! Tenho andado assim.

Vou ao supermercado e, quase sem querer, me pego ouvindo a conversa de quem está ao meu redor. Às vezes na fila do caixa outras vezes no corredor. O pior de tudo é que ainda me vejo dando palpite, mentalmente, é claro. E, dentre várias conversas que tenho participado como ouvinte, uma em especifico me chamou a atenção. Vou compartilhar.

Eis que estou na faixa na amarela, com minha máscara rosa de croché e minhas bugingangas na mão esperando a fila andar quando percebo a minha frente duas senhoras. Com um pouco mais, pouco menos de 70 anos, pareciam irmãs. Vi a cena e “de cara” já simpatizei com a dupla. A de cabelinho branco com roxo (essa moda é engraçada, né?) e vestido colorido filosofava sobre a vida. Dizia eloquente: “- Quando tudo isso passar vou é viajar. Você viu, Nair, o que aconteceu com o cicrano?” Antes mesmo que a outra tivesse tempo de responder ela seguiu falando pelos cotovelos: “- Morreu e não levou nada. Tanto “agarradio” naquelas coisas dele e agora os filhos vão “torrar” tudo.”

Nair, a irmã, só balançava a cabeça. Não sei se aprovava a fala ou se era apenas um gesto automático de quem já está acostumada a viver o monólogo. Fato é: a figurinha eloquente teceu o rosário. Falou do genro do falecido, dos filhos e do neto que, segundo ela, ele deixara muito mal acostumado. Falou dos bens que seriam dilapidados e de quanto o homem havia sofrido para amealhar seu patrimônio.

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A fila andou, me dirigi ao caixa e não pude ouvir o fim da conversa. Mas, uma coisa é certa: a senhorinha esqueceu de comentar se o falecido era ou não feliz.

Medimos a vida do outro pela nossa régua. Fazemos conjecturas com o dinheiro alheio e nos esquecemos que nada melhor que o próprio dono para dar-lhe a destinação devida. Warren Bufett, um dos homens mais ricos do mundo, vive na casa que comprou nos anos 50 e dirige um carro modesto. Nem de longe se assemelha a um velho avarento. É um dos maiores acionistas da Apple e usa um celular Flip, em vez de um smartphone. Aos olhos de quem perto dele quase nada possui, sua fortuna deveria ser bem mais aproveitada. Mas, cá entre nós, o oráculo de Omaha, parece ser bem feliz.

Lembranças a rainha, que continua linda na libra esterlina,

Das coisas que o dinheiro não compra

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