Se encontram quase sem querer na fila do supermercado. Ambas tentaram sair pela tangente, puxaram a máscara, reduziram o passo, mas não teve jeito: os olhos se cruzaram. Não tendo remédio a mais sabida fez logo a festa.
– Hello, Darling! Quanto tempo? Saudades, viu? Como andam as coisas? Ninguém mais te vê, ficou rica, foi?
A outra até queria responder, mas a desinibida continuava seu monólogo reprisado.
– Vamos marcar um encontro? Bater um papo? Aliás, já soube da última? A tal blogueira botou box, fez harmonização e suspendeu as nádegas.
– A outra arregalou os olhos. Mentalmente calculava o gasto. Queria saber em quantas vezes poderia parcelar.
A desinibida destilava seu veneno. Cê viu, né? Depois de tanto procedimento cirúrgico está se sentindo a Elizabeth.
Nessa hora a outra não aguentou. Como que num soluço perguntou: – A Taylor?
– Não, a rainha.
– Hum.
Se despediram com beijinhos e troca de telefone.
Na volta para casa a desinibida pensava na vida vazia e na falta de sorte. A outra ligou para o marido e pediu para aumentar o limite do cartão. De longe a mocinha do caixa lembrava dos ensinamentos do livro Os Segredos da Mente Milionária: “A verdadeira medida da riqueza é o patrimônio líquido e não os rendimentos. ”