Família e propriedade são “corpos” diferentes

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O momento de sucessão na família é considerado muito delicado, tanto na cidade quanto no campo. Há um fator cultural embalando esta fase da vida de uma empresa. Além das questões práticas sobre como fazer a transição sem haver fortes rupturas no que está planejado, pode aparecer nas entrelinhas toda uma série de questões das relações familiares, do seu funcionamento, que são muito sensíveis e que podem tornar o processo um tanto doloroso, por conta de mágoas ou discórdias.

Pelo lado cultural é a demarcação clara de que uma geração (geralmente quem iniciou o empreendimento) está envelhecendo e, por isto, chega o momento de “passar o bastão” para a geração seguinte. Para esta primeira geração é preciso conduzir o processo de desapego em relação a tudo o que construiu, de recordar todos os desafios enfrentados ao longo da jornada, valorizá-los e saber entregar este patrimônio para quem vem a seguir.

Para esta geração que está chegando à direção, saber valorizar a trajetória, não relegar a experiência dos que primeiro percorreram o caminho e conseguir traçar o novo curso, de preferência sem provocar grandes rupturas. É como a corrida de revezamento 4×100 com troca de bastão. O esforço tem que ser de todos para chegar ao objetivo final. Por isto, muitos especialistas no tema chegam a recomendar que o processo de sucessão seja acompanhado também por profissionais e psicólogos especializados em Terapia de Família, para justamente poder trabalhar situações/sentimentos que possam estar atrapalhando as relações pessoais dos familiares e que, ao final, podem influenciar no clima da empresa. Também recomendam, é claro, um advogado para tratar dos temas legais.

Mas talvez seja no campo o ambiente onde é preciso trabalhar com maior atenção o processo de separação entre o que é o patrimônio da família e o negócio desenvolvido na terra que faz parte deste patrimônio. São coisas distintas e cada um tem o seu valor. É também no campo, por um costume ancestral, que a geração mais antiga tem mais dificuldade de se afastar do comando, mesmo que a idade já esteja bem avançada. É possível que isto esteja acontecendo por uma dificuldade em “perder o poder”. O curioso da parte cultural é que, por exemplo, países como o Canadá, os pais se aposentam quando chegam nos 60 anos. Passam a terra para os filhos, caso queiram, e vão cuidar de outros interesses. Muitos passam a viajar pelo país ou fora dele.

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Talvez não seja exagero dizer que esta dificuldade em fazer a transição pode prejudicar o negócio que é desenvolvido na terra. Ou mesmo tirar o interesse das novas gerações em assumir a gestão da propriedade se a geração mais velha, não delega ou permite a implantação de novos conhecimentos, parâmetros ou tecnologias. Com certeza, tudo isto é uma situação delicada. Envolve pessoas e seus sentimentos de pertencimento, de ter seu valor reconhecido. Mas também envolve aprendizado no processo de desapego. E se a transição tem que ser feita, melhor que seja de forma harmônica, pacífica, pensando no bem comum. Assim, o horizonte se apresenta com muito mais futuro, certo?

Família e propriedade são “corpos” diferentes

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