Pelo menos 40% das crianças com autismo manifestam sensibilidade sensorial, que costuma estar relacionada à luz, som, cheiro e texturas de alimentos. Essa condição pode se intensificar durante as celebrações de final de ano
O Transtorno do Processamento Sensorial é o responsável por essa situação, sendo uma condição na qual o sistema nervoso encontra dificuldades em processar estímulos do ambiente e dos sentidos. A hipersensibilidade é uma característica frequente em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estudos indicam que mais de 40% das crianças com TEA apresentam algum transtorno do processamento sensorial. Quando nos referimos especificamente à sensibilidade auditiva, pesquisas anteriores demonstram uma ampla variabilidade na prevalência, com resultados variando de 15% a 100%.
Mariana Tonetto, Diretora Clínica da Genial Care, maior healthtech da América Latina especializada no cuidado e desenvolvimento de crianças com TEA, explica: “Devido à tolerância reduzida a ruídos altos, o barulho dos fogos de artifício lançados durante as festas de fim de ano pode ser excessivamente alto para essas pessoas, desencadeando crises e dificuldades de adaptação ao ambiente. Compreender essa condição é fundamental, especialmente quando a hipersensibilidade é um sintoma associado ao TEA. Isso possibilita que as famílias busquem ajuda e adotem estratégias para lidar com situações que possam desencadear crises, sobretudo durante as festas de fim de ano”.
A boa notícia é que pais, familiares e cuidadores podem intervir oferecendo estratégias para tornar essas ocasiões mais acessíveis e toleráveis para as crianças com autismo. Existem algumas saídas para fazer isso sem causar extremo desconforto aos pequenos e a antecipação é a primeira delas.
Comunique à criança sobre seus planos e antecipe possíveis acontecimentos
Contar para a criança com TEA sobre como será sua rotina é uma estratégia que oferece previsibilidade para a criança. A forma de contar que terão fogos de artifícios durante as festas, por exemplo, pode variar. “Há três sugestões de como fazer isso: A primeira é contando para ela por meio da fala. A segunda é mostrando uma rotina visual pautada na exibição de figuras e no reforço por meio da fala. Já a terceira consiste em criar uma história narrativa com apoio a fala. Caso a sua criança seja acompanhada por um profissional, verifique com ele qual é a melhor estratégia a ser tomada. Isso pode ajudar os familiares a serem mais assertivos com a comunicação, já que há particularidades de nível de linguagem de cada pessoa com TEA”, afirma Mariana.
“Comunicar a possibilidade de estratégias sensoriais, como protetores auriculares ou abafadores de ruídos, pode ser um grande facilitador no momento de encarar uma experiência difícil com ruídos. Além da comunicação, vale testar esses equipamentos com a criança previamente, para que seja familiar a ela quando for preciso utilizá-los”, completa.
Avise os outros participantes e solicite compreensão e auxílio
Eduque os outros participantes das festividades sobre o autismo e forneça informações úteis sobre como interagir de maneira sensível e inclusiva. Estimule a empatia e o entendimento mútuo para que a criança e os demais presentes se sintam confortáveis. Cientes sobre o TEA e suas implicações, essas pessoas podem acabar tendo mais empatia e decidirem por evitar cenários que agravem a sensibilidade sensorial do pequeno, como ouvir músicas altas ou a queima de fogos de artifício. Considere, também, a adaptação de brincadeiras e jogos para garantir que todos possam participar sem excluir a pessoa com autismo das atividades.
Tenha atenção à luminosidade do local
O Natal é uma das épocas mais iluminadas do ano, contando com árvores cheias de pisca-pisca, atrações em carros elétricos, entre outras atividades repletas de luzes e cores. Embora seja visualmente agradável para indivíduos, algumas crianças com autismo podem apresentar dificuldades em lidar com o excesso de luminosidade, levando-as a crises de meltdown ou shutdown.
Meltdown e shutdown são termos comuns para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e seus familiares. Essas palavras referem-se a reações a sobrecargas emocionais, sensoriais ou sociais enfrentadas por autistas. O Meltdown, ou colapso, é uma crise explosiva caracterizada por perda de controle emocional, manifestando-se em comportamentos extremos como gritos, choros, enjoos, tremores e automutilação. Por outro lado, o shutdown, ou desligamento, é uma crise mais interna, levando à retirada ou dissociação da pessoa, que pode ficar isolada, congelada ou paralisada.
“Ao contrário do meltdown, as emoções no shutdown são internalizadas, tornando essas crises mais discretas e passíveis de passarem despercebidas por quem não está ciente do que está ocorrendo. É importante que se descarte a possibilidade deste comportamento ser uma crise convulsiva. Um neurologista precisa estar a parte deste comportamento.”, comenta a profissional.
Cultive hábitos de alimentação e evite mudanças bruscas no cardápio da criança
Durante as festividades de final de ano, é fundamental considerar as necessidades específicas da criança com autismo, especialmente no que diz respeito à alimentação. Para criar um espaço acolhedor e aberto à participação de todos, algumas estratégias simples fazem toda a diferença.
A especialista da Genial Care sugere: “Garanta que haja opções alimentares conhecidas e apreciadas pela criança, proporcionando-lhe uma sensação de segurança. Caso o evento ocorra em outra casa, levar alguns alimentos familiares pode assegurar que a pessoa com TEA tenha opções conhecidas disponíveis. Além disso, garanta que haja um espaço calmo e confortável para que ela possa se retirar, se sentir necessidade, contribuindo para minimizar a sobrecarga sensorial”.
Temma Agência