Pobre menina rica

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Ontem foi um dia estranho. Chegou em casa com seu salto de grife, tirou a maquiagem e da varanda assistiu o sol se por. Estava pensativa. Tem achado pouca graça nas coisas.
Resolveu arrumar seu closet. Separar as roupas seguindo o ciclo cromático sempre a deixa mais calma, pelo menos era o que pensava. Ontem, porém, não funcionou.
Fez carinho na bolsa comprada no exterior, abraçou seu lenço clássico, lembrou da primeira vez que comprou o seu maravilhoso perfume importado.
Ria para si mesma rememorando todas as vezes que se sentira admirada. Nasceu, indiscutivelmente, para aquela vida. O luxo lhe caia bem.
Sabia como ninguém apreciar o tecido sedoso e a última moda. Estava tão feliz em seus pensamentos que nem vira o marido chegar.
Ele vendo a cena, como quem vivendo num pesadelo, resolveu interroga-la: – Você estava fazendo compras novamente?
Ela tentou se explicar: – Não! Só estou arrumando. Essas coisas são antigas.
Ele não conseguia acreditar. Ela começou a chorar.
No seu fantástico mundo das aparências tudo que aprendera fora parcelar. Parcelava a compra e a fatura. Era amante dos empréstimos bancários e dos financiamentos. Aprendera que para ter algo na vida era preciso se arriscar. Mas… casou-se e o marido lhe impôs a realidade nua e crua: Se não tem, não pode gastar.
Tem sido dias difíceis e ela não sabe como tudo isso vai terminar. A inflação chegou, o limite do cartão esgotou, as parcelas venceram e o banco a notificou. O casamento está em crise.
Ligou para a amiga e disse que precisava desabafar. Não contou sobre as dívidas, seu problema era com o marido. Aquele homem parecia não mais ama-la. Teria ele outra? Estava com a alma ferida. Na sua cabeça ainda o ouvia dizer: Pobre Menina Rica.
Desligou o telefone, engoliu o choro, olhou se a t-shirt que vem namorando vai entrar Black Friday e foi trabalhar.
Por hoje, salvem a rainha, que de tão chique se fez estampar na libra esterlina.

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Pobre menina rica

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