Quem me conhece sabe sobre o meu apreço com a capital do nosso Estado (a cidade de São Salvador). Imortalizada na arte e nas canções de diversos artistas, Salvador sempre esconde uma beleza singular, mesmo quando a gente pensa que já conhece todos os seus atrativos turísticos. O barato de turistar em sua cidade é a possibilidade de descortinar o olhar toda vez em que passeamos por lugares conhecidos ou até mesmo desconhecidos.
No século XIX, artistas, escritores e pensadores possuíam o hábito de passear pela cidade a fim de possuir uma experiência estética, sensorial e até sexual com a cidade. Os chamados “errantes urbanos” saiam deambulando pelas ruas sem um roteiro prévio, apenas com o objetivo de experimentar a cidade, realizando a investigação do espaço urbano.
Com o corre-corre da modernidade, perdemos este senso apreciativo da paisagem urbana do local onde vivemos. Muitas vezes, andamos pelos mesmos espaços de forma anestesiada, sem notarmos as mudanças e os avanços estruturais da cidade. De todo modo, restabelecer esta conexão com o local em que vivemos nos proporciona (re)descobrir lugares muitas vezes jamais visitados. Esta foi a sensação que tive após retornar à cidade de Salvador (lugar em que já morei) no último feriado do mês de outubro.
Ao retornar, tive a mesma sensação de Mário de Andrade sobre sua experiência física de andar pela cidade de Salvador no dia 7 de dezembro de 1928: “Gosto de banzar ao atá pelas ruas das cidades ignoradas […] Salvador me atordoa vivida assim a pé num isolamento de inadaptação que dá vontade de chorar, é uma gostosura. […] E nem é tanto questão de apreciar os detalhes churriguerescos dela, é o mesmo do saber físico que dá a passeada à pé. […] Passear a pé em Salvador é fazer parte dum quitute magnificiente e ser devorado por um gigantesco deus Ogum, volúpia quase sádica”.
Em busca de apreciar um pôr do sol ainda desconhecido, cheguei até a Ponta de Humaitá, localizada na Cidade Baixa e também conhecida como Ponta de Monte Serrat. Além deste magnifico pôr do sol, a Ponta de Humaitá fica na Península de Itapagipe e acolhe a Igreja de Nossa Senhora de Monte Serrat, o Convento e um Farol. Sem dúvida alguma, o pôr do sol na Ponta do Humaitá traz uma energia visceral para quem visita, principalmente pela vista deslumbrante da Baía de Todos os Santos.
Além da igreja e do mosteiro, a Ponta de Humaitá abriga um charmoso farol e um píer recentemente reformado para proporcionar ao visitante conforto para a observação da paisagem. Os visitantes aproveitam o visual para relaxar, fazer um lanche, observar a vista e namorar. Não é à toa que o Farol da Ponta de Humaitá é chamado de Farol dos Namorados. São vários os casais que começam seus relacionamentos por lá.
Sem dúvidas, a fotografia natural do lugar colabora com o clima de romantismo expresso pelas tonalidades de cores do pôr do sol mais bonito do Brasil. Com todo o cenário espetacular da cidade, o astro maior é quem dá o show! Digno de incansáveis aplausos.
Como diz a música de Caymmi: Você já foi à Bahia, nêga? Não? Então vá!
