Precisamos produzir 300 milhões de toneladas de alimentos

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De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, o índice mundial de preços nominais de alimentos em abril de 2022 estava 68,3% acima da média de 2019, ou seja, antes da pandemia. Nos últimos doze meses até abril de 2022, os alimentos ficaram 29,8% mais caros no mundo. Nesse cenário desolador, a insegurança alimentar campeia solta. Segundo a FAO, a situação é muito mais adversa para as economias emergentes. A combinação de queda de renda, aumento dos preços dos alimentos e depreciação das moedas locais em relação ao dólar dos EUA responde pela maior parte da deterioração da segurança alimentar, principalmente nas economias menos desenvolvidas.

De acordo com o manifesto “Por uma safra superior a 300 milhões de toneladas em 2023” de Ivan Wedekin, ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, no mundo todo, mais 148 milhões de pessoas passaram a enfrentar insegurança alimentar severa: o total subiu de 780 milhões para 928 milhões de pessoas entre 2019 e 2020. O quadro deverá piorar quando a FAO divulgar os dados de 2021. Nos países de renda alta, a proporção da população vivendo em situação de insegurança alimentar severa passou de 1,6% para 1,7% entre 2019 e 2020.

A importância do Brasil para a atenuação da insegurança alimentar fica patente quando se analisa a mudança radical no destino das vendas externas do agronegócio, dos países ricos para os de menor renda. De acordo com a FAO, na década de 1980, as exportações brasileiras eram destinadas em grande parte às nações desenvolvidas, especialmente os EUA (20,0% do total), a Europa (só a Holanda absorvia 20,3%) e o Japão (6,6%).

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Em 2022, a formulação da política agrícola para a safra 2022/2023 ocorrerá em um ambiente de mudanças profundas, decorrentes de:

· Os reflexos da pandemia iniciada em 2020 sobre o emprego e a renda e os programas de apoio para a redução da insegurança alimentar das famílias no Brasil e no mundo;

· O virtual choque de demanda com o aumento da liquidez mundial e a desorganização das cadeias globais de suprimentos (de matérias primas a chips);

· A elevação das taxas de juros pelos Bancos Centrais dos principais países, tendo o Brasil saído na frente com a elevação da taxa básica de juros (Selic) de 2,0% no início de 2021 para 12,75% em maio de 2022;

· Novo choque de preços das commodities (alimentos, minerais e energia) e os problemas decorrentes de abastecimento de insumos (especialmente os fertilizantes) resultado da invasão da Ucrânia pela Rússia;

· Os problemas climáticos que afetaram a safra de grãos da região Sul do Brasil. A produtividade caiu cerca de 20% e a produção diminuiu 14 milhões de toneladas em relação à colheita de 2020/2021;

· O aumento em torno de 50% da necessidade de capital de giro para o custeio da produção agropecuária, em função da elevação dos custos de produção;

· Os desafios da política econômica, o crescimento reduzido e a perda de poder de compra das famílias, além do clima político em função das eleições de 2022.

Nesse contexto, é fundamental viabilizar a expansão da área plantada para que o Brasil possa colher uma safra superior a 300 milhões de toneladas em 2023 e, assim, contribuir para a regularização do quadro de oferta mundial e a consequente queda dos preços dos alimentos. A demanda por alimentos produzidos no Brasil é enorme. E a cabe ao país um papel central na redução do quadro de insegurança alimentar global. O Brasil não pode dar as costas para o mundo.

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A história da agricultura brasileira mostra erros clássicos de política econômica que precisam ser evitados a todo custo. Não há como retroceder ao passado, como os seguintes casos:

. Tributar a exportação (em outras palavras, “revogar” a Lei Kandir);

. Impor controles quantitativos ou aplicar restrições na exportação;

. Controlar preços da economia, de qualquer produto ou serviço;

. Fechar a economia e impor barreiras à importação;

. Não priorizar a política para o acesso a mais mercados no exterior;

. Tributar os títulos do agronegócio.

O agronegócio brasileiro é gigante e global, mas tem suas raízes fincadas no interior. As novas tecnologias (biotecnologia, comunicação, tecnologia da informação, entre outras) abrirão novas formas para o aumento global da produtividade no setor. A capacidade empreendedora dos produtores rurais é inconteste. A política agrícola brasileira precisa superar o estresse do momento presente e continuar focada na construção do futuro.

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