Em uma série de TV que se passa em Nova York ao final do século 19, há uma cena de um diálogo entre um chefe de polícia recém aposentado desta cidade e o recém destituído capitão da mesma corporação. O Chefe diz para o outro. “Sempre fomos pagos para proteger aos poderosos desta cidade, para que nada acontecesse com eles. Aos pobres, tanto faz se um maníaco ataca-os, matando seus filhos. Se continuarmos a fazer o serviço para o qual nos contrataram, sempre teremos estes bons ternos para usar. Do contrário, em poucas horas estaremos nas sarjetas”.
A princípio pode ser apenas um diálogo de ficção, afinal, a série foi baseada em um livro. Mas se prestarmos mais a atenção para a frase podemos perceber que o que eles estão falando sempre foi uma realidade. O sistema de segurança/polícia, não foi criado para resolver a causa, mas afastar a conseqüência. E com o andar da carruagem fomos nos acostumando a este sistema e não pensando mais na idéia de que a solução poderia ser bem outra. Fomos, como todos reclamamos, volta e meia, nos encarceirando dentro das casas, pagando para empresas garantirem a segurança, e investindo cada vez mais recursos para afastar o mal para bem longe. Ao invés de investir o dobro de recursos na solução do problema.
Certo dia, um assaltante disse ao ser preso. “Graças a mim, vocês têm emprego”. E fiquei pensando nesta frase. E pior que ela é verdade. Se não houver o problema que tem origem na existência da pobreza, da miséria, a indústria da segurança não cresce ou até mesmo, não existiria.
Como foi que muitas gangues surgiram nos EUA e em várias partes do mundo? Vendendo proteção contra assaltantes. No litoral do Rio Grande do Sul, onde ao longo do ano as casas, na sua maioria, ficam fechadas, existe a figura folclórica do Pezão. Volta e meia o Pezão arromba uma casa prá levar o que tem dentro. Mas, segundo contam, semanas antes alguém falou com o proprietário oferecendo serviço de segurança para que ninguém entrasse na casa. E o dono não contratou. E não é que o Pezão fez uma visita naquela casa!
Em muitas coisas na nossa vida, sempre buscamos resolver a conseqüência, não a causa. Mas precisamos encarar que boa parte da causa do problema da insegurança é a diferença de renda. Muitos até vão dizer; como assim, se tem muita gente humilde que não sai roubando. Muitas vezes falta a coragem, não a vontade. Mas falta para a sociedade vontade de resolver muitos dos seus problemas.
Então, prefere pagar para ter polícia, para ter orfanatos, instituições de caridade e mais uma série de artimanhas sociais que segurem a implosão da panela de pressão social na qual vivemos. Preferem ver surgir poderes sobre poderes, como no caso do Rio de Janeiro, para que tudo se mantenha, da mesma forma sempre. Porque enquanto nada acontece comigo ou com os meus, fica tudo bem. Será?
Salve Jorge: https://www.youtube.com/watch?v=lbgjWsGkp6U