Acordou, se olhou no espelho e torceu o nariz.
Ainda não decretou oficialmente aberta a temporada das comilanças e o saldo na balança já se mostra negativo.
Com a mão no queixo, introspectiva, se pergunta mentalmente quando fora que ganhara esses quilinhos extras, já que come sempre tão certinho.
Outro dia, no trabalho, até recusou um pedaço do seu bolo predileto. Sorvete? Faz é tempo que não toma. Chocolate? Já nem lembra o gosto.
Deve estar com problema na tireoide. Vai marcar urgentemente uma consulta médica.
Com a consciência leve por ter encontrado a possível resposta para sua nova forma, se arrumou para sair.
No caminho, quase sem querer, passou pela padaria e comeu um pão de queijo. A tarde, exausta e faminta, pediu pelo delivery uma coxinha. A noite fez para o marido uma deliciosa macarronada.
O personal mandou mensagem querendo saber do seu retorno e ela prometeu voltar no mês que vem.
No meio da noite, sem sono, levantou e comeu um pão.
No dia seguinte a sua calça predileta não entrava. Ligou para amiga e pediu o contato da endocrinologista. Precisa resolver esse problema, tomar as medicações e tratar a tireoide.
O marido que nada fala, mas muito observa, já sabia que ela ia jogar dinheiro fora. Se alertasse viraria uma guerra. Apoiou a ida. Como bem diz sua avó: “a ilusão dos olhos é ver.”
Foi e voltou cuspindo fogo. Nada tinha de anormal. Taxas hormonais compatíveis com a idade e a tireoide nunca esteve tão bem.
Quis chorar para o marido consolar, mas sabia que de nada iria adiantar.
Deitou na cama e começou a lembrar dos ensinamentos da riqueza: “Cuidado com as pequenas despesas: uma fenda diminuta pode fazer afundar um grande navio.”
Parece ser um texto sobre dieta, mas na verdade, baby, é sobre a vida. Sobre escolhas e consequências. Sobre o quanto a vida é sincera.
Por hoje, salvem a rainha, que continua linda estampada na libra esterlina.
