Chuva em uma semana, geada em outra, frio, seca, ventanias, câmbio. As incertezas do mercado consumidor. As variáveis são tantas que quem as ultrapassa, pode se considerar um resistente aos choques da atividade rural. E os problemas não acontecem somente no Brasil, é no mundo todo. É conceito geral que a produção de alimentos é uma indústria a céu aberto. E quem nela atua ou decide entrar, precisa saber trabalhar “aos solavancos”. Mesmo que tenha um planejamento, é bom estar preparado para mudá-lo a qualquer hora.
Ao longo deste primeiro semestre, no programa de rádio Depois da Porteira, entrevistei líderes dos mais diversos setores do agronegócio. Grãos, pecuária de leite e corte, hortifruticultura, floricultura, entre outros. A ideia foi fazer um levantamento de como tinha sido o comportamento de cada uma das atividades, ao longo da última década, 2011/2020. E o que deu para perceber, a partir deste mosaico de informações e opiniões, é que a profissão produtor rural, está longe de ser um mar de rosas encantado, onde todos são ricos, como muitas propagandas fazem parecer.
Para se ter uma ideia, quem se dedica a bataticultura, ao longo destes 10 anos teve três ou quatro com bom lucro. Outros anos eles empataram e em outros, tiraram da poupança para se manter. Os floricultores vinham em crescimento e, por conta da pandemia, viram sua atividade paralisar, de uma hora para outra. Produtores de café estão enfrentando dois anos de estiagem e perdas na qualidade dos grãos. Mas aí, se olha para o lado da soja, do milho e arroz, e estes produtores estão “tirando o pé do barro” como se fala na expressão popular.
Há um consenso que um bom executivo de multinacional só vai se tornar um excelente gestor, depois de passar uns anos trabalhando no Brasil, tal é o desafio econômico. Creio que podemos dizer que este executivo se tornaria um super gestor se passasse uns cinco anos gerindo uma propriedade rural no Brasil, porque os desafios são imensos!
O agronegócio, como um todo, fatura bilhões de Reais, mas isto não quer dizer que esta renda toda fica dentro da porteira. Segundo estudos o antes da porteira (insumos, produtos) representa 10 a 12% do setor, já o dentro da porteira, 20 a 22% e o depois da porteira, que é toda a indústria de processamento, mais a distribuição e o varejo, 70%. O que favorece ao setor, principalmente para quem está na lida do dia a dia, na produção de alimentos, é que nos últimos anos, os gestores públicos, principalmente no MAPA, eram pessoas ligadas ao agronegócio. Com isto, foi possível ir compondo políticas públicas de apoio à produção e ao produtor.
O atual governo tem uma visão de ir se retirando do processo de apoio aos produtores. Deixá-los mais ao mercado. E a pergunta que vem é se isto realmente é possível e necessário? Há quem diga que quando o governo deixou de subsidiar totalmente a produção agrícola, lá pelos anos 90, houve uma grande mudança no setor e, a partir daí, o agronegócio começou a crescer. Mas qual foi o custo disto para muitos produtores? Está aí um bom tema para debate.
E vamos lá, que tem mais uma safra prá plantar! A natureza não para, né?