O fechamento de uma década

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Ninguém, nenhum vidente ou poderoso astrólogo poderia prever o que o Brasil está passando neste ano de 2020. Três commodities agrícolas brasileiras tiveram valorizações muito expressivas, remunerando o produtor brasileiro de maneira muito substancial. A pandemia tem algo a ver com isto? De certa forma sim, pois houve aumento de consumo de vários itens, em momento no qual os estoques não estavam muito altos.

Há um outro fator que pesou na elevação dos preços da soja e do milho. No caso da primeira, as constantes compras da China, pagando inclusive por produto ainda não plantado. Então quando em março a saca da soja era negociada a R$ 90, produtores se diziam realizados. Quando agora, vêem a mesma saca com mais de R$ 160 de preço, aqueles que tiveram que negociar lá atrás, estão frustrados pela impossibilidade de ganharem mais, porque precisaram se desfazer do produto rapidamente. No milho, além do fator China, há o fator dólar que se valorizou fortemente frente ao Real e, portanto, tornou o produto brasileiro mais barato para o mercado externo. O mesmo aconteceu com o arroz comprado por outros países, provocando elevação dos preços a patamares nunca antes visto pelo produtor brasileiro.

Então se ao final desta segunda década do século 21 temos não só um aumento de produção das duas principais commodities agrícolas, soja e milho, como também sua valorização, porque ainda há os mesmos gargalos para que o produtor consiga aumentar seus ganhos? Dizem que existe uma lista de prioridade na forma de pensar do produtor rural, que ainda não foi mudada, mesmo estando neste século. Quando consegue bons resultados a primeira coisa que pensa é comprar mais terra, para plantar e ter. A segunda, máquinas agrícolas tanto para atender este aumento de tamanho quanto para modernizar seu parque de máquinas, mesmo que elas tenham apenas dois anos de uso. E, se for alguém mais focado em gestão, pode ser que entre em terceiro lugar, para quem trabalha com agricultura, a aquisição de unidades de armazenagem.

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Mas isto, de certa forma é uma inversão de prioridade, ao olharmos o que foi dito anteriormente. Se o produtor tivesse na sua propriedade, um silo, teria guardado a safra para ir vendendo de acordo com sua necessidade, e não pela necessidade de se “livrar” dela, pois não tem onde guardar. E, com isto, aproveitando os fortes aumentos de preços que ocorreram neste ano e que ainda podem acontecer em 2021.    Claro, vida de produtor não é fácil. Não é aquela ideia fantasiosa de que viver no campo é uma delícia, sem stress. Há muitas decisões e a incerteza de que o clima vai colaborar para que se produza o mínimo para o sustento e a manutenção da atividade. É uma empresa. E, por isto precisa de planejamento, de prioridades.

Da forma como se está produzindo grãos, em crescimento ano a ano, ter armazenagem na fazenda não é luxo, é estratégico. Deveria estar na prioridade de investimentos, talvez no mesmo nível que irrigação. E prá isto é recomendável que se uma às entidades representativas para buscar junto às autoridades mais facilidade para aquisição de estrutura de armazém. Melhores ainda das que existem hoje. E mais rapidez na liberação das licenças ambientais. Quando o Brasil como um todo chegar próximo ao número de silos em nível de fazenda que os EUA têm, pode ser que a vida do produtor se torne um pouco mais tranquila.

O fechamento de uma década

 

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